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Mostrando postagens de junho, 2017

Quem é você agora?

Entre todas as coisas das quais eu sinto falta nesta vida, o vazio que mais me entristece é aquele com o meu próprio formato. Tem dias em que o eco da pessoa que eu costumava ser tão soa tão alto ao ponto de me incomodar, mas seu impacto sempre me encontra à noite, entre o momento em que eu deito minha cabeça no travesseiro e a odisseia que se passa dentro dela até a manhã seguinte. Aqui e agora não me refiro à eventual maturidade pela qual todo mundo passa, conforme a vida adulta se encarrega de roubar o que nos resta de inocência e despreocupação perante ela. Só quero dizer que... Eu não sei. Algo vem acontecendo nos últimos anos, meses, semanas... Ou, melhor dizendo, nada mais acontece. Nada mais me inspira, emociona, anima. Os dias, assim como os problemas, vem e vão. E o que fica, sinceramente, não me parece ser o bastante. Eu não gosto de ser tão problematizador. E nem gosto de usar palavras tão complicadas assim também. Houve um tempo em que a vida costumava ser mais si

A estrada adiante

Existem várias teorias sobre o Universo. Há quem diga que está em constante expansão, assim como há quem diga que ele irá se autodestruir eventualmente. No final das contas tudo se resume ao otimismo ou ao pessimismo com o qual você encara a vida que tenta viver dentro dele. Particularmente falando, só há uma certeza sobre o Universo na qual eu realmente consigo me apoiar: seja lá qual será o seu fim, seus meios definitivamente não são sutis. E antes que você venha me perguntar sobre o que me deixou tão filosófico desta vez, não foi nada grandioso como uma chuva de meteoros ou místico como um eclipse lunar. Foi uma frase escrita na parte de trás de um caminhão: “ Tudo muda ”. *** Eu ando tão afundado na minha rotina que sempre me surpreendo quando redescubro o resto do mundo que existe ao meu redor. Claro que às vezes o movimento que me tira da inércia nem sempre é benéfico: é na rotina que brotam alguns dos sentimentos mais tóxicos para um ser humano, como a fadiga, a paran

O verdadeiro eu

Você é o que escreve. Não é a toa que ultimamente ando vivendo com base em edições e republicações de devaneios passados. Este é o inegável reflexo de alguém que anda demasiadamente fixado na estrada que ficou para trás, em vez de se concentrar no que pode estar adiante. Parecia mais fácil procurar uma emoção familiar ao que estivesse sentindo em um catálogo pronto, do que colocar-me na posição mais vulnerável de todas: a da originalidade do presente, e quaisquer sentimentos que estivessem implicados nisto. A verdade é que eu não queria escrever exatamente porque não queria dizer em voz alta o que estava sentindo. Não por não saber como descrever o que está acontecendo; exatamente o contrário. É por reconhecer muito bem o que é isto. Algo que eu prometi a mim mesmo que não sentiria mais. Eu me sinto sozinho. *** Durante os primeiros meses em Foz do Iguaçu, tudo o que eu conseguia pensar era: “O que será que vou conseguir fazer aqui?” Havia projetos, idéias, expectativas. Es

Personalidades no limite II

Algum tempo atrás , eu me peguei pensando e escrevendo sobre fronteiras. Algo corriqueiro em se tratando de uma cidade como Foz de Iguaçu, completa com saídas de emergência para não um, mas dois países à sua escolha, caso opte por fugir da nossa atual decadência geopolítica. E ao considerar o significado de fronteiras além das definições geográficas usuais, pensei sobre aquelas que eu ainda não me sentia capaz de atravessar. Sempre penso em Foz do Iguaçu como um centro de possibilidades mais amplo e internacional do que qualquer outro em que eu já vivi. Meu problema estava em descobrir exatamente o que fazer com elas. A melhor – e talvez, a única – estratégia que bolei para mim foi, primeiramente, sair por aí e conhecer pelo menos o que havia ao redor da minha casa. Uma rua paralela aqui, uma avenida principal ali. Padarias ridiculamente extorsivas, academias que nunca frequentarei, um bar de arguile que misteriosamente nunca parecia ter clientes. Hotéis, hostels e sacolões de hor

Agonia e ex-tase

Nós terminamos. Não era isso que você queria quando decidiu sair da minha vida? Bom, aqui estamos nós, querida. Separados. Exilados. Finitos. Não conseguimos ser felizes juntos, ao que parece, e não há mais o que fazer a não ser aprender a lidar com isso. Mesmo firmando todas aquelas promessas durante as nossas primeiras conversas, sobre não desistir, não render-se e não desaparecer. Alguns compromissos parecem tomar uma forma séria demais, pesada demais, para serem levados adiante. Pelo menos foi assim que eu escolhi entender, para a minha própria paz de espírito. Algo deu errado ao longo do caminho, e você não conseguiu mais me acompanhar. Talvez eu tenha apressado as coisas, ou intensificado demais alguns sentimentos que estavam só começando a conhecer a luz do dia. Eu não sei. E talvez eu nunca descubra qual foi o motivo exato que provocou a sua partida. Mas tem algo que você precisa entender, meu bem: não deixe as minhas palavras te enganarem. Sim, eu ainda passo noites sem

Não sei porque você se foi...

É claro que eu sinto a sua falta. Você sabe disso, porque eu nunca fui bom em disfarçar o meu amor pela vida afora. E eu sei que você sente a minha. Senão o que mais justificaria estarmos aqui? Conversando indiretamente? Pensando seriamente em como seria bom deixar o orgulho de lado para te desejar um bom dia mais uma vez. Mas eu não posso fazer isso. Ou não devo? Eu não sei. As coisas andam tão confusas desde que você se foi. E por mais que eu soubesse que ficariam assim, eu ainda tive esperanças. A mesma esperança que me motivou a cumprimentar você pela primeira vez. Ninguém começa nada imaginando em quando ou como irá terminar. Foi assim que eu encontrei você: esperando inocentemente pelo melhor. Mas parte de mim – aquela que eu comentei contigo, cheia de traumas, cicatrizes e medo – permanece invariavelmente alerta aos sinais de que o fim está sempre próximo. A cada resposta impensada, cada movimento brusco, cada olhar desencantado. Eu não te avisei que as pessoas sempre vão e

O escorpião e o escritor

Dedicado a todos com quem eu fui menos gentil do que deveria. Não quero que esta seja a minha natureza a ser lembrada. *** Você já deve conhecer essa história. A velha fábula sobre um escorpião que queria atravessar um rio, e pediu ajuda a um sapo que estava ali por perto. O sapo não queria ajudar o escorpião por medo de que ele o ferisse, mas o escorpião jurou não lhe causaria mal se ele pudesse conceder sua passagem até o outro lado. Argumenta, inclusive, que se por acaso fizesse mal ao sapo, ele mesmo se afogaria no rio, então não havia motivo para o sapo se preocupar. Mas quando o sapo opta por ajudar o escorpião a atravessar, ele lhe dá uma ferroada na metade do percurso. Antes de morrer, o sapo ainda tenta entender porque o escorpião o ferrou, mesmo sabendo que isto condenaria a ambos. O escorpião simplesmente responde que esta é a sua natureza. De todas as interpretações possíveis que poderiam ser tiradas desta história, eu nunca me preocupei com sequer uma delas. Pa

O jogo de casal

Finalmente aconteceu. Depois de anos de inércia, indiferença e insegurança, eu decidi tomar uma atitude drástica para a minha vida. O tipo de atitude que, quando a gente se torna um adulto, é preciso tomar para definir de uma vez por todas quem você, é e o que você busca alcançar neste mundo impiedoso e incessante em seus movimentos de rotação e translação ao longo do universo, pelo pouco tempo que nós temos para aproveitá-lo. Eu dei um passo adiante em nome da minha maturidade, minha estabilidade emocional, e talvez o fator mais importante de todos: meu próprio eu. Sim, eu mudei. Serei um homem mais firme, mais recomposto, mais refinado. Determinado a levar minha vida com a destreza, o foco e a ambição que já são presumidas a um jovem de 25 anos que ainda possui uma vida inteira pela frente, mas também não pode mais se dar ao luxo de desperdiçar dias em vão com crises existenciais e desabafos infames, por mais esteticamente organizados que eles aparentem ser para serem chamados de p

Bem vindo ao fim

Eu sinto muito. Permita-me antecipar o questionamento e confirmar que sim; isto é para você, que está lendo agora e pensando que o motivo pelo qual não nos falamos mais é porque estávamos ocupados demais nos engasgando com as coisas que não conseguimos dizer um ao outro. Coisas como “eu estava errado” e “me desculpe”. Caso esteja sentindo a minha falta, e tudo o que você precisava ouvir de mim era o consenso de que esta distância também é culpa minha, sinta-se à vontade. Porque a verdade é que eu sou mesmo ridiculamente difícil – com ênfase tanto no ridículo quanto na teimosia. E convenhamos, você há de concordar que também é assim. Senão o que mais explicaria as fotos deletadas, as conversas abandonadas pela metade, e o eco que passou a preencher a presença que costumávamos ter na vida do outro? Eu posso ser ruim, meu bem – muito ruim – mas você também não é fácil. E talvez, quem sabe, seja melhor assim. Cada um do seu lado, vivendo a sua vida, tentando não perder tudo o que apre

Como se nunca tivéssemos dito adeus

Eu não sei porque ainda me assusto. Sei exatamente como as coisas funcionam. Uma primeira conversa, um primeiro encontro... Um primeiro beijo. É o ciclo natural de qualquer história prestes a se desenrolar. A história de um cara ligeiramente paranoico e uma moça distinta e esperançosa que se unem na esperança de que, mesmo quando tudo já parecia perdido, algo poderia dar certo entre eles. Para eles. Por amor. Não é nada original. Mas ainda me assusta. *** Eu não ando dormindo bem ultimamente. E por mais que eu gostaria de negar, mentir infelizmente não faz parte da minha personalidade. Principalmente em se tratando de mentir para mim mesmo. Eu não durmo porque passo noites em claro pensando nela. Houve um tempo em que eu costumava escrever me direcionando especialmente a você. Mas você não lerá isso. Não. Você foi embora. Aliás; ela foi embora. E desde então os dias nunca mais foram os mesmos. E as noites, agora, só servem para colocar ainda mais em evidência o vazio que el

Eu ♥ Foz do Iguaçu

*Escrito em 11 de março de 2016. “Topofilia é descrita como um elo afetivo entre a pessoa e o lugar ou ambiente físico.” Se for pelo calor , eu até entendo. É a primeira reclamação que qualquer pessoa que more ou que já tenha visitado Foz do Iguaçu fará sobre a cidade. “ É insuportavelmente, constantemente, apocalipticamente calor! ” e eu concordo. E por mais que eu idolatre o equilíbrio natural do Outono, esse calor imperdoável ainda não passou nenhum limite que realmente me motivasse a fazer as malas e abandonar toda a campanha de tentar fazer uma vida dar certo aqui. Mas o clima abafado mal é aceitável como tópico de conversa entre vizinhos que se encontram acidentalmente no elevador do prédio; quem dirá para uma completa mudança de endereço. Então eu fiquei pensando... Se não é estritamente pelo calor, por que algumas pessoas que moram em Foz do Iguaçu não gostam de Foz do Iguaçu? É uma experiência que tive em primeira mão, ao fazer alguns contatos como parte da minha habi

A pirâmide invertida

Com quase três períodos concluídos no curso de Jornalismo, alguns conceitos deixam de ser meras teorias e passam a fazer parte do seu dia a dia. Em sala você aprende que nem toda informação é digna de se tornar notícia. Enquanto isso, na vida, você descobre que alguns conceitos englobam muito mais do que a resposta em uma questão dissertativa na prova bimestral. Uma notícia é construída a partir de uma informação cujo interesse que desperte seja grande e proporcional à importância que possui dentro de uma determinada comunidade. O que mais poderia depender da combinação entre interesse e importância? (Valor: 1,0 ponto) *** Há quem diga que o verdadeiro aprendizado da faculdade está localizado fora da sala de aula; está nas experiências pessoais que você adquire ao longo dos semestres. Como a primeira vez em que você mata aula para ir ao bar do outro lado da rua, e começa a reparar nos pequenos macetes para disfarçar o cheiro de cigarro e o bafo de cerveja dos seus pais. Ou