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Mostrando postagens de maio, 2017

Relacionamentos imaginários IV

Apesar de todos os obstáculos, toda a correria e cansaço do dia a dia, de tentar lembrar do que precisa comprar quando passar no mercado à caminho de volta para casa, depois de duas provas complicadas que seus professores resolveram juntar em uma mesma noite para apressar o fim do semestre letivo, de conseguir retornar as treze chamadas da sua mãe no seu celular que você não pôde atender antes porque não escutou o toque devido ao barulho do trânsito, você finalmente alcança a cama da onde saiu para enfrentar o resto do mundo pela manhã e pára pra suspirar em alívio. E então você recebe aquela mensagem, que faz com que tudo de apressado e desgastante ao redor dela simplesmente desapareça. Porque aquele é o momento pelo qual você esperou o dia todo. O momento em que vocês pudessem estar juntos de novo, mesmo separados. Particularmente falando, eu acho isso incrível. O fato de que, mesmo depois da maratona que corremos ao longo das horas comerciais, das grades curriculares e dos afazer

Personalidades no limite

Uma das primeiras coisas que me chamou a atenção desde a primeira vez que visitei Foz do Iguaçu foram as placas de trânsito pela cidade escritas em inglês. Por algum motivo eu achei incrível a ideia de morar em um lugar onde até mesmo o trânsito possui caráter internacional. E como algumas pessoas já me disseram, é possível encontrar gente de todos os lugares possíveis por aqui. Como os turistas americanos que sempre me param na rua para perguntar aonde fica o terminal central, ou a vez em que liderei uma família japonesa ridiculamente entusiasmada até uma churrascaria por não conseguir simplesmente lhes informar que era só seguir em frente mais algumas quadras da onde estavam. Enfim, são coisas que eu imagino que só devem acontecer por aqui. Entre o Brasil e a Argentina existe uma que sinaliza o “trânsito fronteiriço” que se forma nas aduanas, pouco antes da ponte Tancredo Neves até o caos que se instala próximo a entrada para o Duty Free em Puerto Iguazú – e é uma expressão que

A lenda do amor correspondido

Se você desconsiderar os efeitos especiais, os dinossauros que inexplicavelmente também viviam na ilha da caveira e a melancolia da Naomi Watts, o filme “King Kong” se trata mesmo de uma comédia romântica. Isto é, até o seu final triste. Enquanto assistia pela enésima vez em um dia desses de ócio criativo e descaso gastronômico – dois fatores que parecem sempre me levar ao sofá para uma sessão reprise com direito a pipoca com muito sal e uma garrafa de refrigerante ao seu dispor sem o peso das calorias na sua consciência – eu me senti particularmente inspirado desta vez quanto mais via a Naomi Watts indecisa sobre ficar com o Kong naquela ilha ou fugir com o outro cara que foi salvá-la. É um triângulo amoroso clássico, mas só funciona se você enxergar o Kong pelo que ele sente, não pelas pegadas gigantes que ele deixa pela floresta. E me fez pensar também sobre o fator crucial que deve existir em qualquer relacionamento para que este seja bem sucedido ou não: a reciprocidade. Dura

O último primeiro encontro

Como todas as tragédias da contemporaneidade, este conto se passa em um sábado à noite. A fonte de todos os sonhos e inseguranças que podem existir na cabeça de uma pessoa. Capaz de elevar ou desconstruir totalmente tudo o que você acredita sobre si mesmo. Caso você acredite neste tipo de coisa. Mas se estiver lendo isto agora, convenhamos: você acredita. *** Eu procuro pela minha alma gêmea desde os 14 anos. Foi nisso que pensei quando vi minha irmã, que tem esta mesma idade hoje, saindo de casa hoje para ir a uma festa. Ao contrário de mim, que ficava em casa cheio de espinhas na cara e questionamentos na cabeça sobre encontrar alguém, ser feliz, e torcer para que o último creme anti-acne que comprei funcionasse da noite pro dia. E já que este texto vai começar com um desabafo que há muito tempo precisa ser expedido, aqui vai outra curiosidade infame: aos 17, quando resolvi sair de casa, eu disse para a minha mãe que queria fazer faculdade em outra cidade porque achava que

O que eu nunca farei por amor de novo

Eu queria que você soubesse. E não é nem como se eu tentasse disfarçar qualquer coisa quando você está por perto. Só não queria que soubesse por mim. A não ser, é claro, se você também tivesse algo pra me dizer. Que também anda tentando esconder o máximo que pode, mas morre de vontade de que eu descubra um dia. E é assim que eu vou levando, dia após dia. Sentindo meu coração disparar quando te vejo, e se partir quando vai cada um pro seu lado. Só não digo nada, nem demonstro nada, porque já vivi o bastante para saber que nada machuca tanto quanto a falta de reciprocidade. E se eu puder evitar a fadiga, eu o farei. Com o tempo a gente fica assim mesmo; tão receoso que nem se arrisca mais, por achar que certas decepções podem ser evitadas de antemão. E alguns sonhos, bom, podem ser desnecessários também. Mas quando estou sozinho, na segurança e na tragédia da sua ausência, eu me permito imaginar um pouco. Penso em como seria se você soubesse um dia. Penso que ficaria feliz – alivia

O sonho impossível

O mundo não é mais um lugar romântico. Algumas pessoas, no entanto, ainda são, e a elas cabe uma promessa: não deixe o mundo vencer. *** Depois de ler incontáveis romances, um homem aparentemente comum decide trazer de volta o cavalheirismo e reviver o sonho de um mundo justo e correto, duelando contra inimigos tiranos e salvando todos aqueles que se encontrem em apuros, acreditando que sua bravura será reconhecida e recompensada por aquela que ele considera como a mulher da sua vida. Esta é a trama do épico “ Dom Quixote ”. E o que me assusta não é conhecê-la tão vividamente sem sequer ter lido o livro, mas já ter passado alguns anos tentando recriá-la na minha própria vida. *** A adolescência é uma selva. Uma luta por sobrevivência constante – ou pelo menos é assim que a gente se sente, entre mãos tremulas durante apresentações de trabalhos, potes de cremes para espinha que parecem não funcionar magicamente da noite para o dia como nós precisávamos que funcionassem, e f

Um dia você vai gostar de alguém

Um dia você vai gostar de alguém, como nunca gostou de outra pessoa antes. Vai acordar pensando nela, vai sair para trabalhar pensando nela, e vai encarar os ponteiros do relógio pensando nela. Esperando que o tempo passe mais rápido; que os minutos virem horas, e que as horas vierem dias. E que tudo isso te empurre adiante, de encontro a ela mais uma vez. Vai pensar, inclusive, duas vezes nela. Primeiro em saudade, depois em insegurança. A vontade de dar aquele “oi”, mandar aquela mensagem boba que não leva a nenhum assunto urgente ou até mesmo coerente. Qualquer coisa para satisfazer a vontade de falar com ela novamente. Falar, ver, tocar. Mas a insegurança... A insegurança é aquela que nos impede de agir sem medir conseqüências. É o impulso de sobrevivência que nos alerta a olhar para baixo antes de pular. Porque todos nós já caímos, nos quebramos um pouco, e temos as histórias e as cicatrizes para nos lembrar de que, se for pra ser de tal maneira, é melhor não ser de jeito

A última garota certa

Só para constar: tudo o que eu queria era um jantarzinho a dois. Mas você não colabora... *** Nada ilustra a coleção de erros que eu já fiz nessa vida de maneira tão clara como a minha lista de contatos do WhatsApp . Foi o que pensei durante o auge do meu desespero existencial silencioso que costuma surgir do tédio das noites de domingo, enquanto descia a barra de rolagem da agenda do telefone e revisitava mentalmente as razões pelas quais sequer havia salvo os números de algumas pessoas que, como o tempo veio a demonstrar, não fizeram jus a demonstrações do tipo “ precisando é só chamar ” ou “ estarei sempre aqui ” que costumávamos trocar. Talvez seja apenas mais um dos efeitos colaterais dos vinte e poucos anos, juntamente à instabilidade financeira e o pavor terminal por qualquer compromisso. Mas é algo que me pareceu especialmente explícito dessa vez, considerando o quão vulnerável eu ando me sentindo nesses últimos dias. A mudança para Foz do Iguaçu há meses perdeu se

O medo

“Uma mulher irá te perdoar por tentar, mas ela nunca te perdoará por não tentar”. Eu não sei de onde o meu amigo tirou isso, e olha que eu fui atrás de pesquisar se tal sabedoria partiu do Winston Churchill ou do Mahatma Gandhi para pelo menos atribuir uma fonte à pérola. Mas foi o que me marcou durante a nossa última conversa, enquanto eu pontuava os prós e contras de chamar uma garota para sair. Não se fala muito sobre a insegurança masculina por aí e independente da corrente filosófica que reprime tal sentimento, é preciso falar mais sobre isso. E mesmo que não seja, eu preciso falar sobre isso. Porque eu tenho medo. É. Medo. Sabe o medo? É o que acontece bem antes de uma relação ser definida por um “ eu te amo ” ou um “ visualizado às 14:15 ”. O medo de perguntar: “ Quer sair comigo? ” Depois dos vinte, relacionamentos ainda mantém uma natureza livre e desimpedida, mas já com algumas atribuições e pré-requisitos antes de qualquer partida a dois começar a ser jogada. Você já

Conexão perdida

Não é que eu deteste o modo como o mundo contemporâneo incorporou as opções online/offline ao modo como nós levamos as nossas vidas. Muito pelo contrário, vez por outras passo mais dias online no vácuo do que offline do lado de fora de casa, longe do alcance de qualquer Wi-Fi. Aliás, às vezes é difícil saber até o que fazer com as mãos quando não possuem um celular conectado com o resto do mundo. Mas existem certos aspectos que ainda não consigo adaptar completamente – o que, por consequência, pode tornar a minha visão de mundo incompatível com os vários aplicativos que temos ao nosso dispor hoje. E dia desses me peguei pensando sobre tempos mais simples, quando conhecer e desconhecer pessoas costumava ser mais audacioso do que suar frio de ansiedade após tentar puxar conversa em um bate-papo virtual, e imaginar as mil e uma maneiras que a pessoa do outro lado poderia reagir. Quase todas, geralmente, beirando aos traumas do nosso ego ferido em outras janelas de conversação, fadadas

Os clichês

Acho que nós , como espécie, já não temos muito o que criar em termos de relacionamentos. Pode parecer pessimista mas na verdade é só uma pequena afirmação em prol da minha própria paz de espírito para que, ao menos daqui em diante, algumas comodidades não pareçam tão alarmantes quanto antes. Porque mais cedo ou mais tarde toda relação cede aos clichês. Desde o cara que manda flores para surpreender a amada, até a namorada que passa no sex shop antes de chegar em casa para preparar uma noite mais apimentada. E não há nada de errado com isso, por mais que todos nos aspiremos pela originalidade. Mas depois de séculos de primeiros encontros, discussões, reconciliações, dentre outras modalidades da vida à dois, é de se esperar que alguns padrões venham à tona. *** Algum tempo atrás uma amiga comentou comigo suas considerações a respeito de um artigo que havia lido sobre a “ geração Y ” e sua infelicidade orgânica como resultado direto de todos terem sido criados com a noção de que s

O amor nos tempos da gripe

A troca das estações sempre traz junto consigo seus efeitos colaterais microscópicos. E eu sei que já faz algumas semanas que os noticiários vêm cobrindo os mutirões em prol da época de vacinas, para prevenir que fiquemos todos à mercê da H1N1 que toma conta do ar rarefeito. Mas nenhum aviso ou estatística se compara a minha teimosia de tentar sobreviver ao outono/inverno sem precisar esperar em uma fila quilométrica para tomar uma vacina que, segundo o folclore do senso comum, nem previne tantos vírus quanto é noticiado. Claro que a veracidade disso não importa agora; é tarde demais para mim. Já faz algumas semanas que sofro as conseqüências de mais um ciclo de gripe. E eu não me importaria de apreciar a ironia disto, se não estivesse tão ocupado tentando respirar. Sabe; para permanecer vivo. Ainda há tantas ironias a serem sofridas pela frente. Tosse, coriza, dores de cabeça. Os sintomas habituais da gripe podem ser combatidos com fármacos e cappuccinos, mas nada pode realmente

Amor: o aplicativo indisponível

Pode parecer aleatório , mas é só a minha mania de enxergar uma profundidade em coisas que na verdade são inocentemente rasas. Porque eu quero escrever um pouco sobre relacionamentos hoje, mas antes eu preciso te contar sobre como eu estava assistindo os improvisos sinceros do Chico Pinheiro no Bom Dia Brasil (sirva-se de uma amostra ) em uma manhã dessas. Até que chegaram a uma matéria sobre um novo aplicativo que permitiria aos espectadores assistirem o que bem quisessem de um vasto banco de dados que compunha a programação da TV, desde o que já havia passado até o que estiver no ar naquele momento. E inaugurariam o aplicativo ao subirem o que foi chamado de “capítulo zero” da nova novela das sete. Nele passaria um pouco do que os personagens estavam fazendo uma semana antes da trama central ser desencadeada aos olhos de quem, assim como eu, não possui espaço de armazenamento suficiente para se dar ao luxo de ter aplicativos no celular. Mas a ideia por trás disso foi algo que me s

O amor da sua vida curtiu sua foto

Houve um tempo em que o flerte costumava ser artístico. Algo respeitoso, singelo, carinhoso. Um começo poético e inocente para se contar às crianças, anos depois, quando estas perguntassem como os pais se conheceram. Mas os tempos mudaram desde o fim da Renascença e a ascensão da Revolução Sexual, e alguns valores foram perdidos entre uma mudança e outra. Outros foram realocados, mas nunca mais soaram como outrora. E digo isso com pesada poesia porque, ultimamente, não há mais nada de romântico em flertes. E se, hipoteticamente, meus filhos inquietos insistirem em saber como eu conheci a mãe deles, é melhor ter uma história melhor para contar do que, digamos, algo do tipo: “ Papai encontrou Mamãe no Tinder, mas ela não era muito de puxar papo... ” Há quem diga que relacionamentos são jogos de poder. E ao contrário do que já acreditei um dia, isto me parece bem mais plausível agora. A única coisa que ainda não consigo compreender ao certo são as regras. Se é que elas existem. Mas s

Não há ninguém perto de você

Eu conheci alguém. Não comentei com ninguém, porque parecia que não ia dar em nada. Foi só uma conversa, num dia desses. Ela me disse “ Oi ” e eu respondi. Nos falamos por um tempo, e eu pensei que ia ficar naquilo mesmo. Afinal, já vi tantos “ Oi ”s passarem por mim com promessas de terem algo mais a dizer, sem nunca mais ouvir nada, que já não me comovo tanto com apresentações. Depois de um tempo você até decora um pequeno parágrafo para apresentar-se a outra pessoa, para agilizar o processo. Mas, daí, no dia seguinte, acabamos conversando de novo. E sabe aquelas conversas que duram horas, mas que você nem vê passarem? E por mais que vocês falem, parece que o assunto nunca acaba. E quanto mais você descobre sobre a pessoa, mais intrigante ainda ela fica. Você procura saber mais e mais... E quando vê lá se foram mais algumas horas. No dia seguinte eu acordei com um “ Bom dia! ” dela. Assim, do nada. Não estava esperando e não respondi por um tempo. Não queria que se tornasse al