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Mostrando postagens de 2017

O que amor tem a ver com isso?

Seis e quinze da manhã, toca o despertador. Levanto com os gatos chorando como se não fossem alimentados há meses, quando na verdade faz só algumas horas. Entro na área de serviço para abastecer o potinho e me deparo com sérias evidências de que eles deveriam entrar em uma greve forçada de fome: um dos filhotes passou mal. Muito mal. Pelo banheiro inteiro da área de serviço. No chão, nas paredes... E deixou pegadas disso até a sala. Como se eu fosse esquecer o que aconteceu. Seis e trinta e cinco. Banheiro limpo, definições de trauma atualizadas com sucesso, e a dúvida pairando sobre tomar banho ou café antes de trocar de roupa e correr atrás do primeiro ônibus que surgir, após eu perder o das 6h45. Há quem consiga ser otimista diante de todas as situações adversas possíveis que possam surgir pelo caminho. Eu não sou uma dessas pessoas. Mesmo sendo pessimista por natureza, simplesmente não havia como negar: meu dia seria uma merda . *** Algum tempo depois, eu fiquei pensan

O bêbado e o malabarista

Fui ali e voltei. Esta é a melhor maneira de explicar por onde andei. Claro, você provavelmente chegou a me encontrar naquele mesmo bar perto da faculdade, ou então cruzamos olhares enquanto eu me servia de mais uma xícara de café em uma manhã qualquer no trabalho, ou quem sabe nós nem realmente chegamos perto de nos vermos. Não seria a primeira vez. Nem a última, por sinal. Eu andei por aí, silencioso, porque não sabia mais o que dizer. Talvez eu nunca realmente soube. E não senti vontade de continuar preenchendo linhas em vão, ainda sem saber o que queria dizer. Ou então, não sabia para quem queria dizer. Foi aí que as coisas começaram a ficar claras. Já faz alguns anos desde que isso começou. A maioria de vocês já conhece a história, mas para quem desceu do ônibus agora, o resumo da ópera é simples. Um dia eu saí de casa e passei a escrever sobre tudo e todos que encontrei por aí. Na esperança de que os registros me ajudassem a voltar caso a vida lá fora não cumpris

Ela

Era um domingo de manhã. A chuva era intensa lá fora. Você estava adormecida ainda nos meus braços quando acordei. Sua pele morena refletida levemente pelos primeiros raios de luz que invadiam o quarto. Você estava em paz. Pensei em levantar e preparar o nosso café da manhã, mas não queria interrompê-la. Você estava dormindo tão profundamente. Descansando suavemente. Existindo perfeitamente. Eu não queria que aquele momento acabasse. Então fiquei deitado ali, ao seu lado, com meus braços ao seu redor, me sentindo grato por você. Por nós. Pela sinfonia da chuva. Pelo amor que estava entre nós, são e salvo de tudo. Nós poderíamos ficar ali para sempre. Nós deveríamos ter ficado ali um pouco mais. Mas, não. Eu quis levantar, preparar o café, começar o dia. Eu, afobado pela vida como sempre, nunca soube discernir o que realmente importava nela. Nós importávamos, disso eu tinha certeza. Mas a insistência em querer levantar fez com que eu a soltasse. Aquele foi o último domingo que

26

O que eu aprendi aos 26 anos... Pra começar, eu fico escrevendo “16” em vez de “26”, o que já indica claramente por onde anda a minha maturidade. Também ajuda a explicar o meu crescente desapego por contatos de WhatsApp que poderiam ter sido bloqueados há muito tempo. Como meu primeiro ato a entrar em vigor neste novo mandato de vida, eu declaro a substituição de discussões recheadas de comentários sarcásticos por um bloqueio objetivo e silencioso. Não é fácil ser sarcástico, e nem todos são capazes de entender. Logo, o reservarei para ocasiões especiais e pessoas próximas. Ou ocasiões próximas com pessoas especiais. Ou a hora que eu quiser. O plano de governo ainda está em construção. Mais detalhes em um release posterior. *** Vinte e seis anos. Cronologicamente, representam a passagem do primeiro quarto de uma vida relativamente saudável. Emocionalmente, representa a curva derradeira entre o território mais ameno dos vinte-e-poucos, e a ladeira alucinada até a linha

Deixe ela ir

Eu sinceramente esperava que não chegasse a esse ponto, mas às vezes acontece. Não importa quantas vezes ao dia você pense nela. Ou quantas músicas parecem ter sido feitas só para vocês. Ou as noites passadas em claro, porque não havia o que fazer a não ser esperar o sol nascer para, quem sabe, encontrá-la de novo por aí. E a verdade é que talvez você a encontre mesmo; só não será mais como antes. Dessa vez vocês serão estranhos. Você não tem mais nada a ver com ela. E ela... Bom... Ela não é sua. *** Aos vinte e poucos anos, eu confesso que acreditava que minha vida estaria mais organizada do que isso. Talvez não financeiramente... E ao julgar pelas minhas opções profissionais, talvez nunca financeiramente. E quem sabe não precisaria envolver um apartamento só meu de novo. Com o tempo você aprende que fazer parte de uma família significa que você jamais estará sozinho... Lide com isso. Mas, emocionalmente, ah... Eis aqui a eterna variável da equação. E por “variável”,

Eu sei que te amo

Diz que é verdade. Nós precisamos conversar. Ou talvez, só eu precise. Mas algumas coisas precisam ser ditas, e só o que eu posso fazer é esperar que cheguem até você. Mas conhecendo você como eu conheço, aposto que chegarão sim. E é exatamente esse o ponto: por que não deixar de me acompanhar de longe, e admite que sua vontade é mesmo andar ao meu lado. De mãos dadas no shopping, e tudo mais. Você sempre foi péssima em negar as aparências, meu bem. E é por isso que se mantém próxima o bastante para cuidar do que ando fazendo, mas longe o suficiente para tentar mostrar ao mundo que você não quer nada comigo. E me recrimina, me odeia, me xinga, me ignora e finge que não existo. Passa reto por mim quando nos encontramos, mas foca em mim quando estamos bebendo no mesmo bar. Tentando, em vão, esquecer um ao outro. Eu preciso do teu beijo. Era isso que eu pensava, desde aquela primeira conversa. Lembra de como eu chamei a sua atenção? Ninguém havia te atraído tão instantaneam

O amor não vem do Tinder

O amor não vem do Tinder. Não é algo que irá surgir em uma primeira conversa com alguém novo. Ou na primeira vez em que vocês criarem coragem o suficiente para se encontrarem. Ou quando você arrisca segurar a mão dela em um momento descontraído. Ou durante aquele beijo, o primeiro beijo, que te enche de sonhos e promessas. Não. O amor não vem disso. *** O amor não vem do cineminha. Não irá aparecer magicamente na sintonia de vocês ao escolherem o mesmo filme. Ou em concordarem que um pega a pipoca e o refrigerante, enquanto o outro tenta encontrar os ingressos no bolso. Também não é naquele primeiro momento após as luzes se apagarem, quando ela encosta a cabeça no seu ombro. E você a abraça, querendo dizer que ela pode se sentir confortável ali, porque você irá apoiá-la. O amor não surge na cena de sexo explícito, ou de conflito frustrante, e muito menos do final feliz. O amor não acompanha os créditos que sobem na tela quando as luzes se acendem de novo. *** O amor não é

Os arrependimentos certos

Entre doses de uísque , um amigo me disse algo marcante. - Igor, se você se arrependeu de algo nessa vida, você simplesmente não viveu. E eu fiquei com isso na cabeça por alguns dias. Porque se há algo que eu coleciono nessa vida, além de comentários sarcásticos e ironias do destino, são arrependimentos. Independente da sua natureza; se nasceram de algo que optei por fazer sem pensar direito, ou algo que escolhi não fazer por pensar demais. Seja como for, eu os carrego comigo. Assim como o meu amigo carregou no dia seguinte, após as doses de uísque. *** A vida é um grande, caótico ciclo de tentativa e erro. Por muito tempo eu acreditei que havia algo além disso nos guiando. Fosse o destino, ou as teorias sobre a pessoa certa no lugar certo e na hora certa. Sempre foi demais pra mim acreditar na noção de que não há nada a não ser desordem e sorte. Como se tudo não passasse de um jogo de tetris, onde às vezes as peças se encaixam perfeitamente, às vezes não. A vida