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Mostrando postagens de outubro, 2014

23

    Ontem foi 23. Foi o dia mais esperado por mim a cada ano que passa, cada inverno que eu sobrevivo e cada grade curricular que eu completo. Mas ontem foi diferente, porque provavelmente foi a última vez em que o meu aniversário envolveu abraços nos corredores da faculdade, ou um grupo de amigos tão grande para se convidar para sair e beber depois da aula. Não. Ontem os 23 foram definitivos em muitas coisas; encerrou o ciclo vicioso e trágico em que os meus 22 haviam se estagnado, entre empregos que vieram e se foram, e mulheres que parecem só ter ido embora, mas também definitivo pelo contexto em que eu sobrevivi por mais um ano. Porque os 23 prometem ser diferentes – como o primeiro ano em que eu estarei saindo para o mundo por conta própria, em busca de sucesso, felicidade, prosperidade e, quem sabe, um pouco mais de estabilidade para firmar as neuroses que, ao que parece, jamais abandonarei.    Eu ainda não sei o que vou fazer com os meus 23, mas pela primeira vez isso não

A segunda edição

Para falar a verdade , eu não gostava muito de você. Também, não era pra menos: quando eu te conheci, você nem sabia falar ainda. Em compensação, depois que aprendeu, nunca mais parou; e de “ mamãe ” e “ papai ”, logo aprendeu outras frases fundamentais como “ você está errado, Igor! ”, ou, “ devolve o meu brinquedo! ”. Eu admito que talvez não tenha sido o melhor exemplo que poderia para você; porque te ensinei palavrões enquanto o pai não estava olhando, e abandonei você em frente à televisão por horas intermináveis de filmes quando deixavam você na minha casa sob os meus cuidados, e te instruía a mentir sobre que horas você foi dormir para que o pai não brigasse comigo; - Você lembra que horas foi dormir? - Lá pelas 3 eu acho. - É, deve ser. Eu também não lembro. Mas se o pai perguntar, que horas você vai dizer? - Meia-noite! - Não! Meia-noite dá muito na cara. Acho que já usamos essa antes. Diga que foi dormir lá por uma e quinze. É mais realista.    E depois de

A última quinta-feira

   ...e então restaram cinco estagiários. Os que disputaram a tapas e olhares feios por uma cadeira na sala de orientações número 4 para continuarem seus estudos sobre a abordagem comportamental com aquela que diziam ser a professora mais querida de todas. E cada um deles também trouxe consigo sua própria reputação: havia a esforçada , responsável por transformar cada um dos seus atendimentos em algo lindo de se relatar; a preocupada , que não tinha muita noção do quanto era capaz de fazer a diferença não só na sua própria cliente, mas na sua família também; o ausente , mas que sempre dava um jeito de ser fazer presente através de algum presentinho especial para o grupo; a criativa , que vivia cheia de recursos para deixar seus “clientezinhos” mais descontraídos; e o problemático , que chegou especialmente sob a ameaça de que iria dar trabalho.    Claro que nenhum deles se limitava a isto; tampouco tinham ideia de que aquele seria o melhor ano de estágio que teriam pela frente.

O fim do corredor

(Dedicado especialmente aos noivos, Greka e Henrique, que tiveram a cerimônia mais perfeita que eu já tive o prazer de assistir, e a honra de participar. Fica aqui a minha singela homenagem, com toda a sátira e ironia possíveis, para não perder o costume.) Esta é a história de um casamento que tinha tudo para dar errado. O evento estava marcado para uma tarde absurdamente quente de sábado. A maioria dos convidados era de fora da cidade, e não sabiam exatamente onde ficava a igreja. O vestido da noiva foi encomendado do exterior, com risco de acabar sendo extraviado. O noivo quase perdeu as alianças antes da cerimônia começar. A família do noivo parecia calma e organizada; a família da noiva era doida. O tapete da entrada da igreja estava amarrotado ao ponto de facilitar para que alguém caísse. A noiva se atrasou para chegar. E como se tudo isso não fosse o bastante para acabar em desastre, eu era um dos padrinhos.    Andar por aquele corredor extenso que ia da porta da igreja

A odisseia da boa forma

Eu sou gordo. Para você que discorda; obrigado, é muita bondade sua. Para você que concorda, um aviso: eu estou ciente disso, logo você não precisa me lembrar disso toda vez que eu entrar no recinto. Atualmente pesando 88 quilos – com uma margem de erro do IBOPE entre 85 a 115 quilos – eu decidi aproveitar meu recente descontentamento ao me olhar no espelho junto ao sol que resolveu brilhar em Cascavel de novo para voltar à academia, com toda a esperança e ilusão que esse processo causa em mim.    Se minhas contas estiverem certas, esta é a 8ª vez em que eu decido começar a frequentar uma academia – e se meus padrões continuarem fieis a mim, esta também será a 8ª desistência sem justificativa nem arrependimentos imediatos. É um ciclo quebrado: eu me olho no espelho e me sinto mal, me inscrevo na academia mais próxima, me animo a ir malhar por umas duas ou três semanas ininterruptas até que, um belo dia, chove torrencialmente ou algum compromisso matinal me impede de ir cumprir mi

A garota errada

    Não é você. Às vezes eu estou errado em achar que encontrei a garota certa, por mais que eu saiba que já deveria ter desmistificado a existência dela de uma vez por todas. Mas eu tenho um dom de enfiar uma faca no peito para sangrar poesia que insiste em tomar vida mais do que os meus próprios instintos de sobrevivência, e que geralmente é que dá brecha para prosas desse tipo.    Parece que quanto mais eu tento mudar, mais eu me rendo aos meus velhos padrões. Por exemplo, eu prometi para mim mesmo que não escreveria mais para você. Mas quanto mais eu penso em mim, meus erros, minhas aspirações, minhas contradições e tudo mais, meu pensamento invariavelmente também toma a sua forma. Porque você parece ser exatamente como eu. Desde o egocentrismo exacerbado encoberto, até as contradições infames involuntárias. Você, que também não sabe exatamente o que quer, mas foge do que precisa. Você, que chora antes de dormir desejando por uma vida melhor, mas que não faz ideia do que te

A entrada triunfal

    Faltam cinquenta e um dias , e tem sido uma viagem e tanto. Entre trancos e barrancos, a faculdade é uma das experiências mais incríveis que um jovem consideravelmente alfabetizado e socialmente dinâmico pode ter. Particularmente falando, mais do que uma experiência incrível, a faculdade foi uma educação além das disciplinas de grade curricular, mas um aprendizado em termos de amadurecimento – pra não dizer, um exercício constante e exemplar das minhas habilidades sarcásticas diante de todas as situações que eu considerei infames. Como provas feitas em dupla e com consulta onde ninguém sabia qual era a matéria a ser cobrada, atividades extracurriculares que não contavam nota nem agregavam novos conhecimentos, mas que ainda assim eram capazes de me custar porcentagens de presença, e a necessidade exorbitante de horas complementares que eu precisei juntar para garantir que o canudo do meu diploma no dia da colação de grau não estivesse oco.    Mas apesar de tudo isso, tem sido