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Mostrando postagens de agosto, 2014

Cuide-se

    O mundo é um lugar frágil. Frágil até demais, para falar é verdade. E como se não fosse o bastante, ele gira sem parar, completa e aleatoriamente o bastante para nos deixar tontos. De todas as minhas crenças, nenhuma realmente se compara à minha paixão pela vida, apesar de todas as suas peculiaridades. Como a sua delicadeza que se mostra nos pequenos momentos que passamos juntos com alguém que a gente ama, ou através das surpresas que nos pegam desprevenidos. Mas nem todas as surpresas são boas, e vez por outras nos percebemos mais despreparados do que gostaríamos. É aí que toda a fragilidade desse mundo vem à tona; quando ele, de tanto girar, às vezes parece despencar na nossa cabeça. E é aí que eu paro e penso sobre o quanto o mundo pode ser o que for, assim como todas as pessoas com as quais nós o compartilhamos, mas que um detalhe em especial tende a se tornar fundamental: a gente precisa se cuidar; começando por nós mesmos, até quem estiver do lado e quem mais a gente pude

As sobras da felicidade

    Quando eu não desperdiço o meu tempo ao ficar pensando sobre como eu desperdiço o meu tempo, meu ócio criativo também passa por momentos aleatórios de otimismo e esperança que me fazem repensar sobre a vida e afins. E geralmente esses momentos tendem a me iluminar ainda mais quando estou sentado na sacada com alguém tomando um tereré e filosofando sobre... Bom, qualquer coisa. E foi em um desses dias em que eu ouvi um absurdo tão espontâneo que resultou em uma teoria mais improvisada ainda, mas que perdurou nas engrenagens dos meus pensamentos preguiçosos por algum tempo. - Eu acho que estou feliz, mas não tenho certeza. - Isso é normal. A gente nunca tem certeza de quando está feliz. Quer dizer, tem sim. Por uns cinco ou dez minutos. A partir daí é uma curva decrescente que resulta em dúvida, ansiedade e ataques aleatórios de pânico e auto-destruição intelectual. - Ok... E como você explica isso? - Ué. A gente sempre sabe quando está triste. É quase palpável. Tem ge

O fim do começo

    A cada dia que passa , eu me surpreendo mais com as novas fronteiras que o meu egocentrismo atinge. Toda vez que eu penso que já cheguei longe demais com as minhas irracionalidades, algumas conversas com meus amigos despertam em mim uma força que me leva bem mais além das conformidades. Mas eu estou me antecipando; tudo começou quando eu ainda estava de férias em Londrina, passeando pela cidade com um dos meus amigos que, assim como eu, está relativamente desemprego e incorrigivelmente atraído a tirar proveito do ócio criativo que dominam os nossos dias. - E aí, para onde vamos? - Cara, ainda é cedo para achar algum bar aberto... - Mas não precisa ser um bar bar, sabe? Estou de férias: qualquer coisa vale. Praça de alimentação de shopping, posto de gasolina, lago municipal... - Melhor evitarmos o lago por enquanto. Lembra do que aconteceu da última vez, não é? - Não é minha culpa. Como é que eu ia saber que aquelas latinhas que eu joguei no lago iam boiar invés de a

O nome do pai

    Você me dá trabalho. Começa com aquela mistura sutil de susto e ansiedade que eu sinto quando toca o telefone e eu vejo que é você, e me pego imaginando o que deve ser que você quer me dizer, que precisou procurar seus óculos para procurar o meu nome na agenda do celular para me ligar. Só para começar a dizer qualquer coisa que não tem tempo de fazer sentido, porque a ligação sempre cai e sou eu quem precisa te retornar. E dá trabalho. Assim como às vezes acontece da gente precisar ir resolver algum negócio de família por aí, que obriga a gente a dirigir por um caminho em comum ao invés das vidas separadas que aprendemos a levar. Você de um lado da cidade e eu em outro. Você com seus problemas, seu estresse, seus telefonemas sem fim, seus cabelos brancos impiedosos, sua rispidez acidental e seu chaveiro completo com todas as chaves do seu mundo que, vez por outras, você acaba perdendo junto com seus óculos. E eu com os meus problemas, minhas inquietações, meus trabalhos de fac

A programação anormal

    Antes de qualquer coisa, eu vou admitir o óbvio: eu tenho muito tempo livre. Compromissos à parte, eu sempre me senti capaz de dar conta de todos os meus afazeres, de lavar, secar e guardar a louça da pia, de não esquecer que o vencimento da conta de água é diferente do talão da luz, de que eu tenho uma consulta médica marcada para o meio de Setembro, de que eu preciso passar no mercado para comprar sabão em pó e de que tem roupa para tirar do varal antes de encher a máquina de novo, e de que, se possível, eu preciso repensar alguns comportamentos meus caso eu queira dividir a minha vida com alguém... E apesar de tudo isso, eu me sinto irremediavelmente entediado no fim do dia. O que me faz carregar um travesseiro, uma coberta e o meu ócio criativo em modo avião para o sofá da sala, onde eu ligo a televisão e desligo a minha ansiedade para me distrair um pouco. Só que, mais vezes do que eu gostaria, minha ansiedade não desliga; ao invés disso, ela só diminui de volume um pouco

A importância do sinal amarelo

    Acho que eu nunca vou me cansar dessa mania de enxergar grandes metáforas de vida nas pequenas coisas ao meu redor. Por um tempo eu acreditei que essa mania era algo ruim, como uma espécie de pseudo-egocentrismo disfarçado de recurso literário, misturado com uma dose de alguma bebida que estivesse ao meu alcance no momento em que decidi criar uma moldura ortográfica para a fração abstrata da minha existência. E acreditava que precisava parar com isso, e talvez usar o tempo gasto com questionamentos inúteis sobre a natureza humana e a exploração do meu ócio criativo aparentemente infinito, para estudar para concursos públicos, lavar a louça que o Domingo acumulou na pia, ou ler pelo menos um livro inteiro enquanto ainda estamos em 2014. E eu estava seriamente decidido a fazer isso... Até eu me distrair com outra metáfora. Eu até poderia tentar justificar minha irreverência ao dizer que velhos hábitos são difíceis de se quebrar, se não fosse por um detalhe: dessa vez a metáfora