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Mostrando postagens de junho, 2014

A bandeira branca

    Dentre todos os meus deploráveis instintos de sobrevivência, talvez o pior deles seja o de competição interna que eu sinto que tenho com todo e qualquer outro ser humano ao meu redor. Desde a pessoa lerda que caminha despreocupadamente na minha frente na calçada, até aquele amigo com uma vida aparentemente mais incrível, rica e bem sucedida do que a minha, com quem eu mantenho uma rivalidade latente da qual ele nem desconfia. Ele nem imagina, mas a cada conquista que ele inocentemente me conta, eu mentalmente já inicio a arquitetura de mais alguma estratégia para superá-lo com algum outro feito, só para mostrar o quanto não só eu também ando muito bem, mas bem melhor que ele. Obviamente não é algo saudável, mas eu ainda acho que há algo de valor em admitir que existem partes deploráveis de mim que sinceramente existem. Sociedades à parte, talvez as pessoas fossem mais livres, felizes e despreocupadas mesmo enquanto estavam passando os dias comendo, dançando e correndo peladas

O outro lado da crevasse

    Em 1994, Gaspar LeMarc , um explorador francês, estava no meio de uma jornada através das cordilheiras dos Alpes quando uma nevasca o separou de sua equipe e subitamente causou um acidente que o fez cair dentro de uma crevasse – uma abertura natural entre geleiras, cuja profundidade aproximadamente estendia-se até 90 metros acima do chão. Quando recuperou a consciência, Gaspar descobriu que sua perna estava severamente ferida, e percebeu-se impossibilitado de escalar de volta à superfície. Ao lutar contra todos os instintos naturais que possuía, e ao obrigar-se a aceitar a pior alternativa possível no momento, Gaspar decidiu que não havia outro meio a não ser se aprofundar cada vez mais dentro da crevasse e da escuridão que a dominava. Depois de quase dois dias, Gaspar conseguiu encontrar uma saída do outro lado, e ao retornar para a base, Gaspar reencontrou sua equipe auxiliar que estava prestes a abortar todas as tentativas de resgate que já haviam procedido, conforme o códig

A história da minha vida

   Esta é a minha última tentativa de descrever o que eu realmente quero dizer sobre músicas com letras diferentes das que a minha mãe pensava, planos que eu tinha em mente quando me mudei para cá que acabaram tomando rumos completamente diferentes, e canastras que foram formadas a partir de uma mão que não era a que eu esperava, mas que era o único jogo que eu fui capaz de formar. O que eu venho tentando dizer já faz alguns posts , é que a minha vida não tem me levado ao caminho que eu sempre pensei que ela iria me levar. Não. Pelo contrário. Aonde eu vim parar não é nem remotamente perto da onde eu cogitei que fosse o que poderia acontecer. Mas isso não necessariamente torna o caminho que eu ando seguindo, algo ruim. Só o torna algo... Diferente. E, definitivamente, é aí que mora o problema. Até quando você vai esperar que a sua vida seja tudo aquilo que você pensou que ela seria, hein Igor? Porque não vai ser. E aqui não entram variáveis como atitudes, oportunidades ou – devo a

A segunda opção

    Eu gosto de pensar que sou fiel às minhas escolhas. Isto é, até elas me traírem e deixarem de serem símbolos do meu caráter, para significarem apenas mais um exemplar da minha coleção de arrependimentos. Parece que eu tenho uma capacidade espetacularmente infalível de me perceber entre a opção certa e a duvidosa, e correr para o lado duvidoso enquanto os gritos de desespero da certa vão se abafando com a distância. Isto certamente explicaria porque eu passo grande parte do meu tempo deixando oportunidades únicas passarem, ou insistindo que o meu jeito torto é capaz de endireitar até mesmo o mais distorcido raciocínio que me levou a produzir uma resposta incompleta, ou – por que não? – amando as mulheres erradas. Mas apesar dos erros – que até o presente momento não foram poucos, incluindo este post infame – eu me mantenho leal a eles. Se o capitão do Titanic manteve-se firme em seu posto ao decidir afundar junto com o navio, eu também devo me manter firme em minha insensatez

A culpa é minha

   Eu sinceramente acredito que existe algo a ser dito sobre as coisas que não fazemos. Só não sei ao certo o que, porque dizem que o que não foi feito também não vale a pena ser comentado. Se não aconteceu, não significou nada. Mas aí entram as coisas que acontecem e que, vez por outras, também sofrem pela falta de um significado, um sentimento que as mantenha vivas em nossa memória. Então eu não sei. Particularmente eu gosto de acreditar que tudo que é capaz de me causar algum tipo de impressão marcante, também vale a pena ser discutido. E na falta de alguém para me ouvir, acredito que vale a pena ser escrito.    Talvez a poesia seja o exílio dos arrependimentos, ou o porto-seguro dos sentimentos ocos. Tudo parece muito bonito, muito apaixonante, muito sintético, mas sem muita utilidade. Isto é, a não ser para indicar a leitura à alguém que está sofrendo por algo que não sabe como lidar direito. Poesia serve para dar forma a estes sentimentos, como um porta-retratos que enfeit

A tempestade perfeita

   Hoje eu decidi escrever sobre o glorioso e marcante fato de não ter tomado chuva. Aos desavisados sobre a minha natureza neurótica, melancólica e metafórica, abandonem este post já! Porque, crianças, como você já conhecem bem o costume, esta não é a história da vez em que eu saí de casa no meio de uma tempestade, e não tomei chuva. Claro que não. Esta é uma história de como a vida nem sempre vai ser do jeito que a gente quer, e nem do jeito que a gente se acostuma que é também. Como assim? Eu vou explicar...    Porque eu tenho essa natureza neurótica, melancólica e metafórica que transforma toda e qualquer situação em que eu arrisque encostar a minha fútil e infame existência em algo que a simboliza como um todo, mesmo que seja só parte de nada. E eu tenho essa natureza neurótica, melancólica e metafórica que vos escreve porque, de um jeito ou de outro, foi assim que a vida me modelou. Existencialistas dirão que é uma mistura de inautenticidade com ma fé descarada. Psicanali

O direito de ir e "devir"

    Eu acho que perdi o meu “ devir ”. Não, eu não escrevi errado – tanto é que o Word nem quis me corrigir automaticamente, diferente de quando escrevo meu sobrenome, Moresca, e ele insiste em querer corrigir para “ Marisco ”, mas tudo bem. A questão é que eu acho que perdi o meu “ devir ”. O que é “ devir ”, você me pergunta? Bom, mesmo que não tenha perguntado eu vou explicar. E mesmo que você já saiba o que é, vai continuar lendo mesmo assim. Porque nunca se sabe quando eu terminarei minha aparentemente breve explicação sobre este fenômeno da filosofia, sem que antes eu acidentalmente me perca um pouco na minha própria filosofia distorcida de vida, e suas respectivas ramificações dentro das entranhas da sociedade atual. Hum... Não, desta vez não. Ainda está cedo, só tomei uma xícara de café, e não me sinto tão aloprado e inspirado ainda. Sabe por que? Porque eu acho que perdi o meu “ devir ”.    “ Devir ” é como o caminho para a felicidade; é uma instância filosófica que repr

O momento Amy Winehouse

    Quatro anos atrás, eu fui a uma balada . Com o passar dos anos desde então, eu fiz jus à minha reputação de solteiro permanente (apesar que, aqui, gosto mais de usar o termo “ indomável ”... pelo bom senso de tentar ser menos estranho e mais sociável, mas tanto faz) e cheguei a ter aquela fase que todo mundo tem de vislumbrar o ápice da sua semana como a famigerada sexta-feira, seguida pelo alucinante sábado à noite e, por que não?, a mesa redonda do Domingo à noite para reunir as tropas e deliberar sobre tudo o que fizemos, certo e errado, e para já começar os preparativos para o próximo final de semana. Eu sinceramente não consigo me lembrar da onde tirava tanta animação, tanta energia e – principalmente – tanto dinheiro para fazer isso final de semana após final de semana, mas não posso negar que foi uma boa época da minha vida. Daquelas em que nós costumávamos ser menos ocupados, menos exigentes e mais flexíveis perante a vida. Sabe, antes do trabalho, a faculdade e o peso