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Mostrando postagens de janeiro, 2014

O lixo existencial

             Em conversas com algumas pessoas que se inspiraram com meus surtos de ócio criativo e queriam saber como era para mim escrever coisas tão sem sentido, mas ao mesmo tempo tão dolorosamente profundas e sinceras, eu disse que era como jogar o lixo fora. Jogar o lixo fora? É! Pensa comigo: Você vai no supermercado e compra um bolo, ok? Aí você chega em casa, arruma a mesa com todo o cuidado, coloca a cafeteira pra trabalhar, e muda o status do seu WhatsApp pra “ Comendo bolo, oh yeah ”. Então você senta na mesa, serve um café, corta uma fatia do bolo e imediatamente sobe aos céus do orgasmo estomacal. A primeira mordida te dá aquela expressão de “ Esperei por você a vida inteira! ”, coisa que algumas pessoas já não te provocam mais, só a comida mesmo. Aliás, acho que depois de algum tempo, a gente deixa de sentir amor com o coração e só sente paixão com o estômago, mas isso é assunto para outro amanhã.             Enfim, as primeiras fatias daquele bolo foram deliciosa

A idade sentimental

             Quem vê data de nascimento não vê coração. Digo isso porque é incrível o quanto a idade de alguém parece tão importante para coisas como dados cadastrais em formulários ou audiências disciplinares caso aquela menininha tão experiente que você pegou na balada na verdade nem concluiu o ensino fundamental ainda. Mas não é culpa nossa. Nós vivemos em um sistema social que ainda prende o caráter das pessoas à idade que elas tem, e depois as categoriza em ordem crescente de modo que organizações possam lidar melhor com essa gente sem correr o risco de enfrentar problemas legais. Porque inventaram que pessoas não podem responder por si mesmas ou por seus atos até completarem 18 anos. 18 anos é o primeiro degrau da escadaria rumo à responsabilidade legal, mas está longe de alcançar algum nível real de moralidade realmente exemplar. Mas isso é uma generalização, claro. Tão incoerente quanto a que o governo instituiu para separar os jovens dos adultos. 18 anos é a divisa entre

O jogo da indiferença

            Houve um tempo em que o amor costumava seguir uma ordem: duas pessoas se conheciam, se atraiam, se gostavam, se encontravam, se comprometiam, se envolviam com suas respectivas famílias, se organizavam acerca do lugar favorito de cada um na cama, se enfrentavam para que o outro baixasse a tampa do vaso e não apertasse o tubo da pasta de dente pelo meio, até que finalmente se enrolavam ao redor dos laços sagrados e sutilmente sufocantes do casamento. Mas depois de duas guerras mundiais, centenas de revoluções populares e da invenção da pílula do dia seguinte, o amor não pôde deixar de se abater pela nova ordem mundial e pelo modo causal que seus usuários começavam a tratá-lo. Foi assim que jantares românticos, telefonemas de madrugada e demonstrações públicas de afeto foram agressivamente banidas dos costumes sociais, dando espaço para a marginalização do afeto de maneiras - para dizer o mínimo - questionáveis.             Eu não sou careta, nem santo, virgem ou purita

A lei do desapego

             Nós vivemos em uma era de coisas. De querer cada vez mais coisas. De gostar de pessoas por causa de coisas. De tentar usar coisas para ocupar o vazio deixado por outras coisas. Por outras coisas de outras pessoas, que acabaram indo embora por causa de, bom, outras “ outras coisas ”. E quando isso acontece, o valor que associamos a essas coisas acaba sendo maior, porque passamos para elas tudo aquilo que aquelas pessoas significavam, mas que agora não estão mais aqui para matarem a nossa saudade. Não. Só o que sobraram foram as coisas, que de certo modo se transformam numa espécie de tesouro deixado para trás por essas pessoas. Tesouros que não conseguimos jogar fora, nos auto-censurando ao sequer pensar nisso pois, afinal, o que fulana iria pensar de me visse jogando isto fora? É como se eu estivesse jogando fora o resto de esperança que ainda tenho em nós. Engraçado como nos livramos tão facilmente das pessoas, enquanto as coisas que ficam – as coisas que realmente p

A estrada adiante

Tudo está acabando , e estou falando sério desta vez. Tudo bem que 2014 mal começou, mas apesar de ainda estarmos em Janeiro, de fotos de pessoas na praia com as pernas abertas de frente pro mar estarem alagando o Facebook , e das promessas de ano-novo ainda terem cheiro de novas, não tem como negar que este será um ano definitivo para muitas coisas. Ou então, pelo menos para mim e mais um punhado de pessoas que conheço, será. Porque este é o último ano da faculdade.             O ano que passou por um prelúdio de quatro dezenas de meses de introduções a teorias, práticas e reflexões do que é ser um psicólogo. Como é existir como psicólogo, atuando como facilitador de enfrentamento de pessoas com quaisquer processos de adaptação que estejam passando. E mais importante; o que fazer com tudo isso, para que as neuroses dos outros não nos enlouqueça sem querer. Quando eu digo que tudo está acabando, me refiro ao espaço do porto seguro em que ainda estamos ancorados, mas com poucos me