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Mostrando postagens de outubro, 2013

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            Dizem que quando se chega aos vinte-e-poucos , sua vida já estará basicamente definida assim como as pessoas com quem você estará compartilhando-a. Quem disse isso? Eu não sei. Mas acho que alguém, provavelmente filosofando sobre tudo que já conseguiu atingir na vida antes de tomar fôlego para assoprar as velas do seu bolo de aniversário, ponderou sobre isto e agora faço eu o mesmo. Caso isto ainda não te convença, ok, fui eu mesmo. Eu sempre imaginei que quando chegasse aos vinte-e-poucos, minha vida já estaria basicamente definida. E depois de completar 22 anos, e com isto patinar na linha tênue entre a famigerada fase da adolescência tardia versus a maturidade precoce, confesso que eu estava certo.             Aniversários para mim sempre foram a época do ano em que a vida tira por mim um extrato de tudo que eu adquiri ao longo dos anos; um balancete das vitórias justaposto com o revés dos descontentamentos, das mágoas, dos rancores tenebrosamente muito bem aliment

Lá vem o sol

Esses dias eu e a Joyce estávamos conversando sobre como nós temos sorte. Obviamente chegamos a essa conclusão enquanto brisavamos em nosso lugar favorito, a sacada daqui de casa. Eu nem sei como isso começou para falar a verdade, mas parece que quando a vida nos invade demais e a sensação de sufocamento supera a de apreciação, é pra lá que a gente corre. Para sentar, conversar, esquecer dos problemas e quem sabe recuperar o fôlego para então dar o dia como encerrado e ir dormir com um pouco mais de força e otimismo para toda a luta e loucura do dia seguinte que está por vir. E comentamos sobre como não só aquele pequeno espaço em nosso apartamento não só faz bem pra gente, como também sentimos que é para lá que queremos levar todas as outras pessoas em nossa vida quando as coisas apertam, as mágoas nos afogam e as dificuldades nos estreitam. E por incrível que pareça, sempre funciona.              Foi o que eu disse pra Dayane quando eu a levei ali pela primeira vez e, desde e

O que te faz feliz...

             Eu não tenho escrito tanto quanto costumava e o motivo disso me assusta. Quando me perguntaram porque reduzi meus devaneios rotineiros sobre a vida, sonhos, esperanças, o TCC que não termina e a louça suja na pia que parece criar vida própria quanto mais eu a ignoro, eu disse que estava distraidamente economizando minhas palavras porque estava ocupado demais sendo feliz.             A felicidade não me deixava escrever. Agora pare e pense sobre isso, Igor. O que isso diz sobre você? Convenhamos que vez por outras você senta e escreve para se sentir melhor, para dar vazão aos sentimentos que te assombram. Para tentar emoldurar em parágrafos e períodos tudo aquilo que parece vagar aleatoriamente dentro de você, mas que não possui forma concreta nem profundidade medida para que se possa compreender o que está acontecendo. Mas é o que te faz sentar e confrontar o vazio de uma página do Word com a imensidão da sua incoerência emocional. E vez por outras, você consegue.

Outros quinhentos

            Eu faço isso já faz algum tempo. Esse negócio de sentar e escrever sobre o que eu penso, o que eu sinto, o que eu quero... Acontece que, depois de um tempo, é fácil se perder entre as palavras. Entre as pessoas, os lugares e tudo mais que me cerca. Não é a toa que às vezes eu não sei o que dizer. Mentira. Muitas vezes eu não sei o que dizer. O que pensar, o que sentir. O que fazer. Muitas vezes eu não sei nada. Como se de tanto escrever tudo, eu me esvaziasse aos poucos. Ontem isso era bom. Eu escrevia esperando pelo alívio, pela redenção. Era como se tudo aquilo, uma vez emoldurado em períodos e parágrafos, não me pertencesse mais. Como se aquela dor não tivesse atravessado o meu coração. Como se aquelas lágrimas não tivessem sido choradas por mim. Mas aos poucos eu percebi que não era apenas a dor que estava indo embora. A vida inteira estava passando diante de mim, preenchendo-me e esvaziando-me constantemente como se eu fosse apenas um copo de bebida. O que é irôni

A tulipa invertida

             Às vezes eu me sinto a melhor pessoa do mundo. A pessoa capaz de andar pela rua com uma trilha sonora impecável estourando seus ouvidos e um ar de superioridade natural que faz com que todos em seu caminho torçam os pescoços para me ver de novo, porque não acreditaram que alguém tão incrível poderia existir logo aqui, nos confins do Oeste do Paraná. Às vezes eu me sinto muito criativo. Capaz de elaborar técnicas alternativas para estudar para provas, ou para iniciar conversas com as pessoas, ou para alcançar coisas que estão longe. Para incrementar o potencial do meu misto quente em noites mornas, ou para extravazar quaisquer angústias que tem atormentado a minha alma e só serão capazes de encontrarem a redenção se eu as libertar na forma das palavras certas.  Às vezes eu me sinto invencível. Tão invencível que errar seria infame, pedir ajuda seria inconcebível e duvidar da minha autoconfiança seria heresia.             E então tem os outros dias.             Às

Pra não dizer que não falei das flores

            É sempre a mesma coisa. Toda vez que estou prestes a embarcar no ônibus vindo de Foz do Iguaçu com destino à Londrina, eu sinto algo que me detém. Algo que me faz não querer entrar no ônibus e sentar na poltrona do lado da janela, porque se tem algo que eu inexplicavelmente gosto nessa vida é viajar de madrugada com os fones de ouvido sussurrando minhas trilhas sonoras nostálgicas prediletas enquanto olho para a noite lá fora como se fosse uma cena de videoclipe melancólico dos anos 90. Mas tem um primeiro instinto que não sente vontade nem disso.             Não é medo, porque eu sei o que me espera depois de cinco horas de viagem e de prolongamento do encurvamento crítico da minha coluna que o banco do ônibus me proporciona. Eu vou chegar em casa, reencontrar as melhores mães do mundo me esperando ansiosamente para tomarmos café, para me perguntarem como estão as coisas em Cascavel e para criticar minha roupa mal passada, meu rosto cansado e meu cheiro de bebida. Po

Pela última vez em Cascavel

                         Já faz algum tempo que chove em Cascavel , e também não parece que vai parar tão cedo. Eu não sei mais o que acho disso,  provavelmente porque me acostumei a escolher entre sair de casa sem blusa e passar frio de manhã, ou com blusa e passar calor à tarde, enquanto os pingos continuam a cair na minha cabeça. Eu odeio usar guarda-chuva. É como um lembrete constante no meu caminho de que eu não pude sair de casa com as mãos livres. Não. Eu precisei de algo pra me proteger do tempo. Pra não me molhar com os pingos. Enfim, pra me ajudar...             Ultimamente parece que minha vida toda tem precisado ser escondida debaixo de um guarda-chuva, porque a tempestade lá fora parece que jamais me perdoará. É o trabalho que exige uma estratégia nova de mim, é o TCC que precisa ser reescrito, é o lixo de casa que precisa ser colocado pra fora, a louça que precisa ser lavada, a roupa que precisa ser passada, a nova pessoa errada que eu encontrei e precisa ser supera