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Como eu conheci minha esposa

Meu nome é Igor Costa Moresca. 20 anos, brasileiro, heterossexual, estudante do 2º ano de Psicologia, alcoólatra ocasional, fumante funcional, apaixonado terminal, e projeto de escritor. Por três anos, desde que me mudei de Londrina para Cascavel, eu estive transcrevendo o decorrer da nova fase da minha vida e o decorrer desta história que continuo a escrever a cada nova inspiração, até que um dia eu percebi que não estava escrevendo apenas a história da minha vida tola e inconstante; pelo contrário, eu estava escrevendo a maior história de amor que eu poderia imaginar em ler: a minha.

Claro, parece bobagem dizer isso, até porque a história está apenas no começo. Sobre os três anos que já se passaram, bom, digamos que precisei escrevê-los porque era necessário explicar quem eu costumava ser, quem eu me tornei depois de alguns capítulos, e quem eu estava prestes a me tornar antes de conhecê-la. Você sabe de quem eu estou falando, ela mesma: a musa, a lenda, a mulher da minha vida. Não, eu não a encontrei ainda, mas você sabe disso. Afinal, se está lendo isso, obviamente é porque você está me ajudando a escrever, e é óbvio que estamos apenas no começo. Mas depois de todo esse tempo e de todos os outros contos pelos quais já passamos dentro dessa narrativa, acho que podemos afirmar que estamos lentamente deixando o começo da história para trás. Bem vindo ao meio; o que será que acontecerá daqui pra frente?

Mas antes de virarmos a página por completo para começarmos uma nova parte desta história, vamos recapitular um pouco o que já vimos. Então eu me mudei para Cascavel depois de concluir o Ensino Médio no mesmo colégio em que estudei durante todos os meus anos acadêmicos, na cidade em que vivi desde que nasci. Deixei meus amigos, minha família e todo um mundo conhecido e confortável para trás, com nada além do que meus novos sonhos e um sentimento de que as coisas iriam se acertar para mim. E adivinhe só? Eu errei. Depois de uma chegada desastrosa em Cascavel que resultou na minha desistência do curso de Jornalismo - o caminho profissional que havia sido escolhido por mim - e a aquisição do meu primeiro apartamento de solteiro, parecia que eu estava com vida demais para dar conta com apenas 17 anos e pouquíssima experiência sobre, bom, tudo. Mas eu segui em frente, chorando e acreditando que as coisas iriam melhorar. Sim, eu errei de novo.

Quando a solidão causada por um mundo terrivelmente novo e real começou a se aquietar em mim, eu encontrei uma faísca de esperança na forma de uma mulher. Uma mulher incrível, espontânea e inacreditável como nenhuma outra que eu já havia conhecido. Uma mulher tão perfeita... Que até gostava de outras mulheres. É, dessa vez eu errei feio. Mas passados um ano, mil lágrimas e novas desilusões amorosas, eu não só me reconstruí como comecei a me sentir como eu mesmo de novo, só que um pouco mais resistente à realidade. Infelizmente, isso voltaria a me fazer tropeçar na vida de novo, mas pelo menos foi bom para que eu aprendesse que na vida sempre há buracos na estrada, e que o segredo é continuar caminhando em frente.

Em seguida dei início à minha segunda faculdade; o curso de Psicologia. Eu admito que durante os primeiros meses, eu me senti desesperançosamente perdido e aproximando-me perigosamente daquela linha tênue que separa personalidades extrovertidas de psicoses medicáveis. Por sorte, era só paranóia minha mesmo, e logo as coisas realmente se acertaram. Eu fiz amigos novos, e aprendi desde as maneiras mais suaves até as mais extremamente complicadas de que mantê-los não era algo fácil, mas definitivamente era algo que valia a pena. Me apaixonei mais algumas vezes; primeiro por uma garota que mal sabia da minha existência (e acho que continua assim), depois por uma garota que eu jamais deveria ter considerado como algo a mais do que uma amiga, e então por uma mulher semi-formada que parecia o complemento perfeito para a minha alma romanticamente perturbada em construção... Até eu descobrir que ela mesma ainda estava tentando se encontrar no mundo, e infelizmente insistia em continuar se perdendo em todos os lugares errados.

Enfim chegamos ao presente; ao momento que definimos como o fim do começo, e o começo do meio. E se as coisas continuarem do jeito que estão, acho que estamos prestes a escrever a parte mais emocionante da história. Ah, sim, a história; eu sabia que estava me esquecendo de algo. Para dar um fim a este belo começo, eu preciso confessar que essa não é a simples história de Igor Costa Moresca e os rumos que estou seguindo em minha vida. Não, isto é e sempre foi uma história de amor. Uma história sobre uma busca, completa com vários desvios, erros, momentos de medo e dúvida, e que sem dúvida será lembrada por muito tempo depois que chegar ao fim - e, com sorte, depois que chegar às livrarias também. Esta é a minha história de amor ou, para ser mais específico, a história de como eu conheci a minha esposa. É, eu não a conheço ainda, mas não posso deixar de sentir que agora, pela primeira vez na vida, eu estou na direção certa para encontrá-la. E daqui em diante, as coisas serão diferentes. A história se aprofundará, então continue a me acompanhar nesta grande história de amor. Afinal, acho que você já leu demais para querer desistir agora. E no fundo, eu aposto que você quer saber como isso termina.

Bom, não tanto quanto eu.

Ao som de: Paradise - Coldplay.

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