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Quais são as chances?

Há dois dias atrás eu saí de casa e fui em um desses lugares onde a música é alta e as bebidas custam o triplo do que valem, e cheio de pessoas que não valem nada mas tentam se provar umas para as outras. Levando em conta a crença que a sociedade instala nas mentes dos jovens de que este é o ambiente ideal, eu decidi tentar na esperança de algo disso fizesse sentido para mim. Não fez, mas eu ri bastante.

Em meio aos rostos de desconhecidos algumas até chamavam minha atenção quando passavam por mim para ir ao banheiro ou para me ignorar e comentar com a amiga em seguida, mas uma em particular sobreviveu ao extermínio que cometi aos meus neurônios e continua na minha mente. Ela estava lá andando para lá e para cá com uma amiga. Meus olhos frisaram nela no exato momento em que um cara a agarrou pela cintura e começou a cochichar em seu ouvido algo que transformou o sorriso dela em uma careta. O cara tentou roubar um beijo, mas ela - já esperando tal atitude - rapidamente virou sua bocheha como alvo. Ainda persistindo, o cara a segurou por mais alguns instantes até desistir e seguir para o banheiro. A garota foi para o outro lado carregando consigo a careta para mostrar à amiga.

Mais tarde no outro lado da boate eu a vi novamente com a amiga, e novamente a vi ser envolvida nos braços de outro causador de caretas. Desta vez não demorou muito, ela parecia mais impaciente e logo o cara se foi, deixando uma careta pior do que a primeira. Procurei-a por um tempo mas não a encontrei, puxei o bêbado que estava comigo e decidimos ir embora.

Na saída eu a vi, sentada num sofá do hall de entrada com desapontamento transbordando em seus olhos. O olhar de alguém que saiu em procura de algo que não estava ali, e que produzir seu melhor visual até então foi em vão. Não tenho certeza, mas olhei para trás uma última vez antes de deixar o lugar e acho que vi lágrimas secas traduzindo a frustração para fora dela. Ainda lembro do rosto dela, mas provavelmente nunca mais a verei. Trabalhando com isto em minha cabeça cheguei a conclusão de que minha opinião préviamente formada sobre o lugar estava errada; ali, no meio de doses de álcool e ritmos eletrônicos havia pessoas procurando por algo. Algo que até mesmo eu, com silenciosa esperança, buscava encontrar.

Provavelmente nunca mais a verei, e apesar de termos saído com a mesma sensação, ela não me viu. E mesmo sabendo que você nunca lerá isto, não pude deixar de pensar... Não poderia ser eu? Acho que nunca vamos saber. Ou não.


Música do Dia: Chances Are – Robert Downey, Jr. & Vonda Shepard.


***


E falando em músicas, eis aqui o que cantei baixinho pelas ruas em Abril:

01. Overture Delle Donne – “Nine” Original Sountrack

02. Tears Dry On Their Own – Amy Winehouse

03. Fall to Pieces – Avril Lavigne

04. True Love Stalker – Miss Li

05. Shining Star – Get Far

06. I Don’t Wanna Miss a Thing – Aerosmith

07. I Dare You to Move – Switchfoot

08. Better in Time – Leona Lewis

09. She Will Be Loved – Maroon 5

10. Send in the Clowns – Judy Collins

11. Didn’t We Almost Have It All – Whitney Houston

12. Someday We’ll Know – New Radicals

Comentários

  1. Arrastei o bêbado que estava comigo, haha.
    Viu, pré julgar o lugar pela aparência nunca vale a pena e eu ainda acho que você deveria ter conversado com ela, quem sabe não?

    Flora

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