Pular para o conteúdo principal

Felicidade aleatória

Meus professores dizem que quando um paciente deixa o consultório, ele precisa sair com a sensação de que foi entendido. Apesar de estar estudando sobre isso, eu balancei a cabeça quando ouvi mas não consegui captar bem a sensação - provavelmente porque faz tempo que isto não acontece comigo. A medida que fui tornando-me cada vez mais estranho e complexo, mergulhando de cabeça na minha alma e quase me afogando nas próprias lágrimas, ficou difícil de acreditar que alguém poderia me entender de novo, vide a fantasia constante de que a pessoa capaz disto estava solta por aí, sempre inalcançável, cuja alma se encaixaria à minha num piscar de olhos; eu só não a havia encontrado ainda. É difícil encontrar pessoas compreensivas hoje; pessoas que te entendem de coração e alma, escutam todos os seus segredos, e ainda saem em público com você. E conforme me deixei morrer, morreu comigo a esperança de que isto poderia acontecer de novo. Mas como sempre, a vida se encarrega de me contrariar - pelo meu próprio bem.

Há dias que começam assim; com músicas nostálgicas e repetindo para si mesmo que tudo vai dar certo, até passar por momentos turbulentos e eventualmente repousar na cadeira na hora da aula à noite, só para ter a depressão chegar silenciosamente. E quando tudo parece estar perdido, acontece; a felicidade aleatória que toma conta quando menos se espera e mais se precisa. De repente as pessoas e tudo mais em volta se transformam em apenas barulhos de fundo, e o mundo que tomei como real escapa da minha mente e vem à tona ao ouvir alguém dizer, "eu entendo" - e sentir que, finalmente, está sendo entendido.

Tudo bem, o sonho acabou. Mas se for como diz a música, e a felicidade estiver mesmo há cem lágrimas de distância, talvez eu esteja mesmo chegando perto. Mas sentir-se entendido de novo faz valer a viagem. Não há nada como felicidade aleatória para salvar o dia.


Música de Hoje: The Wildest Times of the World – Vonda Shepard.

Comentários

  1. Quando criei meu blog, com este titulos, muitos me perguntaram o porque dele... confesso que não sei explicar, foi uma sensação que eu tive, igual essa sua.. Mas nao preciso mais me sintir só, acho que mais alguem entendeu. *-----------*

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Os 5 estágios do Roacutan

            Olá. Meu nome é Igor Costa Moresca e eu não sou um alcoólatra. Muito pelo contrário, sou um apreciador, um namorador, um profissional em se tratando de bebidas. Sem preconceito, horário ou frescura com absolutamente nenhuma delas, acredito que existe sim o paraíso, e acredito que o harém particular que está reservado para mim certamente tem open bar. Já tive bebidas de todas as cores, de várias idades, de muitos amores, assim como todas as ressacas que eram possíveis de se tirar delas. Mas todo esse amor, essa dedicação e essas dores de cabeça há muito deixaram de fazer parte do meu dia a dia, tudo por uma causa maior. Até mesmo maior do que churrascos de aniversário, camarotes com bebida liberada e brindes à meia noite depois de um dia difícil. Maior do que o meu gosto pelos drinques, coquetéis e chopes, eu optei por mergulhar de cabeça numa tentativa de aprimorar a mim mesmo, em vês de continuar me afogando na mesmisse da minha melancolia existencial.            

A girafa e o chacal

Melhor do que os ensinamentos propostos por pensadores contemporâneos são as metáforas que eles usam para garantir que o que querem dizer seja mesmo absorvido. Não é à toa que, ao conceituar a importância da empatia dentro dos processos de comunicação não violenta, Marshall Rosenberg destacou as figuras da girafa e do chacal . Somos animais com tendências ambivalentes – logo, nada mais coerente do que sermos tratados como tal.  De acordo com Marshall, as girafas possuem o maior coração entre todos os mamíferos terrestre. O tamanho faz jus à sua força, superior 43 vezes a de um ser humano, necessária para bombear sangue por toda a extensão do seu pescoço até a cabeça. Como se sua visão privilegiada do horizonte não fosse evidente o suficiente, o animal é duplamente abençoado pela figura de linguagem: seu olhar é tão profundo quanto seus sentimentos.  Enquanto isso, o chacal opera primordialmente pelos impulsos violentos, julgando constantemente cada aspecto do ambiente ao seu re

Wile E.: o gênio, o mito, o coiote

Aí todo mundo no Facebook mudou o avatar para a imagem de algum desenho e eu não consegui achar mais ninguém, mas depois de um tempo eu resolvi brincar também. O clima de celebração do dia das crianças invadiu as redes sociais de tal maneira que todos nós acabamos tendo vários flashbacks com os desenhos de nossos colegas, dos programas que costumávamos assistir anos atrás quando éramos crianças e decorar o nome dos 150 pokemons era nosso único dever. E para ficar mais interativo, cada um mudou a imagem para um desenho com qual mais se identifica, e quando a minha vez chegou, não tive dúvidas para escolher nenhum outro senão meu ídolo de ontem, de hoje, e de sempre: o senhor Wile E. Coiote. Criado em 1948 como mais um integrante da família Looney Tunes, Wile foi imortalizado pelo apelido e pela fama de fracassado em sua meta de vida: pegar o Papa Léguas. Através de seu suposto intelecto superior e um acesso ilimitado ao arsenal de arapucas fornecidas pela companhia ACME, Wile tento