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Mostrando postagens de março, 2009

Acredite nas estrelas

Toda vez que minhas aulas acabam mais cedo, ou quando minha van atrasa (ou, ambos), eu fico no estacionamento frente ao meu bloco e olho para o céu, em típica moda subjetiva. Mas o que eu nunca deixo de reparar é a quantidade de estrelas que estampam a noite em Cascavel. Talvez fossem os prédios ou minha cegueira adolescente natural, mas eu não conseguia ver as estrelas em Londrina. Em Cambé não havia prédios que cobrissem minha visão, e a janela do meu quarto era virada justamente para a imensidão lá fora - também, sem estrelas. Na minha mente eu sempre acreditei que existia certa conexão entre as estrelas e algum tipo de esperança, para não dizer felicidade. Desde a literatura até o cinema retratam estrelas como símbolo desse significado, e eu cresci com isso. O que eu acho estranho é exatamente esta contradição: eu era feliz em Londrina/Cambé, mesmo sem estrelas. E agora que tenho uma cidade estrelada, tudo parece ser mais difícil - isto é, até eu olhar para o céu. Honestamente?

Rapidinha

Pra mim, manchas de caneta nas mãos não é sujeira, mas sinal de trabalho. *** Estou trabalhando numa teoria sobre como tudo no mundo é subjetivo. Mais detalhes em breve. *** Às vezes a nostalgia me domina demais e eu sinto vontade de dizer à pessoas com quem não converso mais algo como “obrigado por ter feito parte da minha vida”. O mesmo vale para alguns lugares. *** Só isso.

Mesmo que distante

Meu nome é Igor Costa Moresca. Há cerca de dois meses atrás eu tinha uma vida completamente diferente em Londrina, mas motivos pessoais e estudantis fizeram com que eu decidisse, de certo modo, seguir em frente - para Cascavel. Eu tinha uma vida plena com minha família, meus amigos, e minha consciência. Mas agora eu preciso começar tudo de novo, num lugar novo, com pessoas novas e quase nenhum histórico de qualquer tipo. Nenhum laço, nenhuma lembrança, nenhum fragmento meu. Em Londrina, parece que estou fragmentado pela cidade. Cada rua me lembra uma história, uma piada, uma sensação. Porém, o que resta agora são apenas fragmentos, e eu terei que me acostumar com isto. De agora em diante, terei que me contentar em perder aniversários, ocasiões especiais e momentos... Aqueles momentos em que eu quase sempre estava presente. De agora em diante, com raras exceções, serei frases de MSN, fotos de Orkut, textos de blog, e uma voz no telefone por um bom tempo. Serei uma lembrança de tem

Laços rompidos

Ultimamente eu tenho reparado bastante nas doenças que eu possuo, e chamo-as de “doenças” propositalmente no sentido pejorativo. Minhas síndromes são bastante peculiares e malignas: desde minha Compulsão por drama transcrito até a perigosa Apegação emocional instantânea. São bem simples de diagnosticar mas complicadíssimas de se tratar - ou então, era o que eu achava. Compulsão por Drama Transcrito (CDT) baseia-se na comodidade momentânea que encontro ao digitar minha dor para fora de mim e expô-la ao mundo em forma de arte (ou, tentativa de arte), mas na maioria das vezes o brilho de mártir não é tão reluzente quanto eu esperava. A cura? Ter mais tempo para pensar, porém menos tempo com as mãos sobre um teclado. Um caderno pode até ser usado para absorver tais frases, mas o cansaço natural de meus dedos, perante a rapidez dos meus pensamentos, sobressai-se e cessa este mal. Mas os verdadeiros danos são causados pela Apegação Emocional Momentânea (AEM?), e se não forem tratados c

O mundo real

Existe uma linha tênue entre viver e sobreviver, e é bastante simples perceber a diferença: está na paixão. Se você tem paixão, você vive. Senão, você só sobrevive, por questão humana básica. Antes de vir para cá, eu me considerava um apaixonado; pelo curso que escolhi, pelas pessoas que me deram força para prosseguir com ele e com os desafios que viriam pela frente. Perdão, eu não me considerava um apaixonado e ponto. Eu achava que minha paixão era eterna, algo escrito nas estrelas e que nunca se apagaria. Curiosamente, eu expressava tudo isso com palavras digitadas. Parecia tão inocente e confortável; eu me sentia bem com isso. Dois meses depois, a situação amadureceu, mudou, cresceu e está assim agora: cinza, tipo aqueles dias nublados e perfeitos para ficar dentro de casa com uma xícara de chocolate. Nem precisa dizer que são meus dias preferidos, e eu até fui agraciado com um deles hoje – mas não pude aproveitar como gostaria, devido às responsabilidades que adotei e, em troca,

Infidelidade

Meu nome é Igor Costa Moresca, meu melhor amigo é meu mp4 e uso meu caderno para anotar conversas comigo mesmo. Alguma coisa deu errado. *** A verdade é que mentir é mesmo mais fácil, e acompanhando as mentiras vem as justificativas para elas. Dizemos a nós mesmos que não há necessidade de contar a verdade se tudo o que causará será dor; talvez uma consciência limpa não valha isto. Mas mentiras encobertas podem ser mais difíceis de agüentar do que verdades expostas. Mentimos para nós mesmos esperando pelo melhor: que nossas mentiras se transformem em verdades. Depois que parei de mentir para os outros sobre meu bem-estar toda vez que perguntam se estou, afinal, bem, as coisas até pareceram ficar mais fáceis – mesmo que tenha sido uma sensação momentânea. Só que não parou por aí. Eu continuo a mentir pra mim mesmo. Eu vou dormir à noite sempre achando que amanhã será melhor, mas acaba sendo só a mesma coisa. E está ficando muito cansativo. Eu não sei se tudo dará certo,

Andar sobre a água

Depois de toda tempestade, um arco-íris aparece no céu. Até aí, tem tudo a ver com biologia, ou química, ou pura bichisse – essas coisas. O que eu parei mesmo pra reparar é o tempo que algumas tempestades duram, algumas levam apenas uma tarde, enquanto outras se transformam em dilúvios aparentemente eternos – tipo aquele em que eu me meti enquanto atravessava a Avenida Brasil semana passada (falando nisso, minha calça preferida continua um pouco úmida). E não estou falando simplesmente de trovoadas a céu aberto – viva, subjetivismo! Morar aqui, andar por aqui, viver aqui está sendo como caminhar meio a uma tempestade – estou constantemente tropeçando em simbólicos buracos nas ruas, cobertos pelas águas, enquanto rezo pela volta do sol. Na minha cabeça, faz mais sentido, mas eu não quero mais guardar essas coisas só pra mim – eventualmente, me afogarei nelas. Às vezes minha vista embaça e eu não consigo enxergar meu caminho – ou até mesmo a mim, ou quem eu costumava ser. Não consigo

Milk-shake

A cada dia que passa eu me convenço mais de que o começo das coisas é sempre a parte difícil. E todo dia eu me lembro de alguém, é infalível. Um rosto similar, uma fala, um gesto... Minha mente volta automaticamente para Londrina. Eu vou a pé para o trabalho todo dia, na esperança de criar qualquer tipo de vínculo com a cidade. E é tão difícil quanto o resto. As esquinas são desconhecidas, as avenidas são incoerentes e as pessoas são estranhas. Por sorte, eu compro milk-shakes por dois reais em uma das mil banquinhas de sorvetes que existem espalhadas pela avenida principal. Tudo bem, ninguém me disse que seria fácil. Mas ninguém disse que seria tão difícil, salvo exceção de duas primas minhas que já moraram aqui por alguns anos e logo voltaram para Londrina e que disseram que no começo tudo seria “ uma merda ”. E tenham dito. Aí eu faço meus amigos me ligarem a 346 km de distância pra me ouvir, porque ninguém aqui me entende. E é uma das coisas que mais fazem falta; ter alguém pra m

Escute a chuva no telhado

Por mais que eu tente, eu não consigo ter um dia normal. Meu nome é Igor Costa Moresca e hoje eu vi um pombo dançando “Hips Don’t Lie” na rua. *** Cascavel é uma cidade absurdamente imprevisível; prostitutas fazem ponto às segundas-feiras, a maioria das pessoas nunca ouviu falar de “Crepúsculo”, e a Coca-Cola em lata custa R$2,50 em todos os lugares. Mas nada se compara ao clima; quente em um momento, frio no outro, e isso não se deve apenas ao ar-condicionado do shopping. Só que não é disso que eu quero falar. Com a superlotação que domina o ônibus no horário que o tomo para o trabalho somado com a atrevida tarifa de R$2,20, eu decidi que andar os 5 km que separam minha casa do shopping não seria tão ruim. Afinal, entre derreter dentro do ônibus ou na rua, pelo menos na rua é de graça. Saí de casa com pouco mais de uma hora para andar até o trabalho, armado com o mp4 carregado, – apesar da bateria viciada – meus óculos escuros que, depois de esquecer no carro do meu pai,

Momento Amy Winehouse

Tudo que eu queria agora é que existisse alguém para quem eu pudesse fazer a pergunta que só eu posso responder. Eu fiz a coisa certa ao vir para cá? Ao deixar tudo e todos para trás, para começar uma vida nova? Será que eu consigo? *** Um mês depois. A ficha finalmente caiu, e não foi um momento bonito. Imagine só; quem diria que eu, logo eu, me desapegaria não apenas de uma pessoa ou um lugar, mas de uma vida inteira, na esperança de recomeçar e crescer numa cidade sem resquícios emocionais de qualquer tipo. Sem lembranças em cada rua, ou conhecidos em cada quarteirão. E o mais importante: sem complicações amorosas – algo que, ao longo dos anos, tornou-se minha marca registrada. Só tem um problema; um detalhe que eu escolhi deixar passar em branco, achando que não seria relevante. Por mais que eu tenha evitado, algumas lembranças que eu não queria mais carregar comigo deram um jeito de se infiltrar na minha bagagem, e viajaram comigo até aqui. Eu as afogo durante o dia, m

Ferida aberta

Quando éramos crianças e nos machucávamos, era de costume transformar um arranhão em um escândalo ou anunciar uma torção como se fosse uma tragédia grega. E isso é normal; éramos jovens e desacostumados com a dor. Mas – gostemos ou não – isso muda com o tempo e logo descobrimos que nos machucar não é tão incomum e, infelizmente, é muito fácil. A maior diferença, porém, é invisível aos olhos; uma ferida aberta pode ser tratada do mesmo modo, não importa se tivermos três ou trinta anos, mas não há Nebacetin que cure, digamos, um coração partido. E então aprendemos a cuidar do nosso emocional assim como cuidamos do nosso físico, mas não é nada fácil. Não existe um folheto que nos informe como prevenir decepções massacrantes ou lágrimas agonizantes, e por mais que a psicologia evolua, ainda não existe nenhum posto de saúde que ajude a reparar sonhos despedaçados. No fim, ainda sofremos arranhões e torções como crianças, mas choramos sem lacrimejar, gritamos sem aumentar o tom da voz, e

Em voz alta

Audácia é uma característica poderosa, mas demora a ser amadurecida nas pessoas. Ocasionalmente, pensamos duas vezes antes de abrir a boca em uma sala de aula por timidez ou até medo do grande grupo, ou não nos levantamos imediatamente em um local lotado porque não estamos preparados para termos olhares alheios direcionados a nós. E se não tomarmos cuidado, timidez ou medo podem nos prejudicar quando tentarem passar por cima dos nossos direitos, e acabarmos imobilizados por nós mesmos. Felizmente, nosso silencio tem limite e para todos chega a hora de soltar o verbo e protestar, ou simplesmente obtemos voz o suficiente para responder a chamada. É assim que deixamos de ser crianças e assumimos responsabilidade por nossos atos e citações. Mas claro, até mesmo audácia demais pode ser autodestrutiva. Ser independente é muito complicado.

Alguém novo

É um fato certo da vida; as pessoas que entram no seu cotidiano, mais cedo ou mais tarde, também irão deixá-lo. Alguns morrem, outros se mudam, e boa parte deles é até mesmo expulsa, mas ninguém dura para sempre. Por isso mantemos fé em um melhor amigo quando a distância vai lentamente tornando-se insuportável, e continuamos a carregar entes queridos em nossos corações mesmo sem mais compartilharmos o mesmo teto. E quando nos encontrarmos ao redor de um mar de rostos desconhecidos e nos sentirmos sozinhos, o melhor jeito de remediar é simplesmente dizer “olá” ao colega do lado.

Obrigado, de nada

Nem sempre temos ajuda disponível e por isso é importante ter noção – e um pouco de controle – sobre as coisas que nos cercam, como o portão de casa ou o interruptor certo no trabalho. Saber onde fica a Reprografia na faculdade também é muito útil. A maioria das pessoas não gosta de admitir que, de vez em quando, precisam de um pouco de orientação – e isso é compreensível. É da natureza humana querer fazer tudo sozinho; afinal, um homem das cavernas não ensinou seu hipotético vizinho a acender uma fogueira para que ele também pudesse aquecer sua comida e se proteger do frio. Hoje, as pessoas mais humildes que não vêem mal em pedir ajuda sentem até um pouco de receio para interagirem com outros que se mantém mais reservados, porque pensam que não precisam de ajuda com nada – ou além, pensam que sabem muito mais do que elas. Comunicação é uma coisa mágica. *** As pessoas da minha sala morrem de curiosidade para saber do que falam os textos que escrevo durante a aula. Acho

Guerras domésticas

Acontece em todo lar; entre quatro paredes existem inúmeros cabos-de-guerra imaginários cujos participantes buscam algo impagável – controle. Às vezes são pequenos confrontos entre pais e filhos, ou batalhas sangrentas entre maridos e esposas – e, ocasionalmente, até mesmo uma família inteira pode acabar dividida em trincheiras adversárias, onde somente um triunfa e deixa para trás seus entes “queridos” a tratar de suas feridas. Pode ser simbolizado pela briga para escolher um canal para assistir na televisão, até a artilharia utilizada para decidir quem lavará a louça do almoço, mas toda família enfrenta ocasionais conflitos que, se não forem resolvidos pacificamente, podem causar confrontos épicos. O melhor jeito de resolver tais duelos é simplesmente baixar a guarda e parar de ver outras pessoas que convivem debaixo do mesmo teto conosco como inimigas. Porque, no fim do dia, todos ainda dormem no mesmo quartel – conseqüentemente, no mesmo time. É tudo questão de espaço e compr

Letra e música

É até meio estranho de descrever, mas eu sinto uma inveja/admiração imensa ao ouvir uma música cuja letra fala exatamente o que eu tinha pensado em escrever, e que alguém obviamente mais capacitado expôs ao mundo antes. Por exemplo, se eu disser que tive a idéia de fazer um musical com as músicas do ABBA antes de descobrir sobre a existência de “Mamma Mia!”, ninguém vai acreditar – mas a letra de “The Winner Takes It All” será escrita na minha lápide, sem discussão. *** Ninguém que eu conheço conhece Stephen Sondheim, ou Andrew Lloyd Webber, ou Bernadette Peters. Eu me incomodava com isso antes e, como de costume, me achava a pessoa mais estranha no recinto. Agora eu acho legal, principalmente pela mania de gostar de coisas diferentes que cativa as pessoas, mas nem compartilho; é tudo meu. Na verdade, é assim; Sondheim e Webber escrevem musicais e na maioria das vezes chamam Peters para estrelá-los, tudo isso na época de 90 pra trás. E é como eu disse no trecho acima; tud