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Qual é o seu lugar?

“Às vezes você precisa perder tudo antes de realmente conseguir se encontrar.” Essa é uma das duas frases que carrego comigo há anos na forma de post-its em um mural improvisado. Mudança após mudança, o mural foi perdendo seu charme original, bem com os post-its perderam sua capacidade de se segurar nele. Se há ou não uma metáfora embutida nisso quanto a permanência das coisas, a natureza efêmera da vida ou o teste do tempo sobre a nossa determinação, eu não sei. Mas são pensamentos que não pude deixar de notar enquanto, mudança após mudança, eu passava meus post-its a limpo como forma de nunca me esquecer do que considero ser fundamental. Parece irônico precisar de um lembrete sobre algo fundamental, mas a vida – além de efêmera – também tende a ser deveras contraditória. Assim também se constitui a nossa natureza, apesar de alguns traços de personalidade constantes que, vez por outra, parecem destoar da realidade à sua volta. Não porque deixaram de nos representar, mas porque não faz
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Tudo está diferente (mas nada mudou)

“As coisas estão melhorando / ou você ainda se sente o mesmo?”  – “One”, U2 Mas isso era inevitável, não é? Vai levar um tempo para que tudo realmente mude. Ao contrário do mundo projetado pela união instável entre minha ansiedade e minhas expectativas, o sol que nasceu hoje não tende a iluminar grandes avanços. Pelo contrário: salvo uma ressaca ou outra em destaque, a tendência é que a vida continue a provocar as mesmas dores de cabeça de sempre.  Calma: isso não é o reflexo de algum instinto pessimista crônico. Acredite se quiser, mas isso é uma promessa. Talvez a mais otimista e generosa a passar pelos seus olhos hoje. Talvez já tenha acontecido com você: em menos de 24 horas, toda a fé que você depositou no universo acabou sendo implodida devido a algum descuido, esquecimento ou hábito – invalidando toda e qualquer nova atitude que você imaginava ter quando o relógio marcasse meia-noite.  É comum de esperar que a fundação do universo simplesmente se reconstrua num passe de mágica d

Ninguém realmente some

  Isso pode ser reconfortante ou desesperador – depende de como você encara as idas e vindas da sua vida. Acho que em algum momento, todos nós fomos ensinados sobre como a vida corre em ciclos. Alguns se iniciam por iniciativa própria, outros são forçados a nós pela iniciativa de outros – e, claro, há aqueles que simplesmente se impõe em nosso caminho, sem consultar qualquer opinião.   Enfim, há quem teorize que as idas e vindas da vida se manifestam entre esses ciclos – o que também ajuda a dar sentido à distância que invade o espaço outrora preenchido por infinita intimidade. É como aquela cena de abertura de novela, com gente chegando e saindo a todo instante, numa frequência frenética de êxtase e melancolia.   Mas para quem já passou dos 30 há algum tempo, acho que tenho tempo de casa o suficiente para contestar algumas infames verdades universais. Porque quanto mais eu me distancio do mundo de uma pessoa, em direção a outro, mais eu percebo como ninguém realmente some.

Isto não é para lágrimas

Talvez o principal motivo pelo qual eu não me permita mais parar para pensar sobre as coisas seja o quão forte a realidade é capaz de me atingir agora. Claro que, por via de regra, essa viria a ser mais uma das ironias a enfeitar a minha coleção.   Pode parecer confuso para quem chegou agora, mas a verdade é que, em outros tempos, eu vivia para pensar – sobre tudo. E o que fazia para impedir que todos esses pensamentos pairassem sobre mim, sem forma? Ora. Dava a eles a moldura que eu senti que mereciam: textos e mais textos sobre os altos e baixos da minha vida, meticulosamente psicografados na esperança de que um dia serviriam a algum propósito.   Entenda: eu era jovem. Era outro mundo. As coisas eram mais simples e eu tinha muito mais tempo livre para... Bom, ser livre. À minha maneira, em mais palavras do que pareciam ser necessárias, mas sempre convicto de que escrever fazia sentido. Mais do que isso: fazia com que eu me sentisse vivo. Quem não cederia a um impulso desses

O paradoxo da piscina em casa

Eu fui uma criança de apartamento, o que em teste já deveria te dizer tudo que precisa saber sobre mim. Desde as pobres habilidades sociais – graças à arte de evitar vizinhos nas escadas – até a péssima coordenação motora – por ter preguiça demais para enfrentar as escadas rumo a qualquer espaço livre no térreo para praticar alguma atividade física. Mas meu prédio não era como os de hoje – completo com todas as áreas gourmetizadas possíveis, quadras de beach tennis e espaço pet. Longe disso; naquele tempo o ápice da vida verticalizada era ter um botão para controlar a entrada e saída da “porta de vidro” que separava o portão externo e os capachos dos moradores do primeiro andar. Naquele tempo eram raros os prédios com elevador ou algum atrativo na área comum. Por isso era sempre animador visitar algum amigo ou parente que morasse em uma casa cujo terreno permitisse melhorias como churrasqueira, uma rede pendurada entre pilares e, claro, uma piscina. Os meses entre novembro e fevereiro

É assim que acaba

Eu preciso confessar uma coisa. Por mais arrogante que eu soe, na maior parte do tempo eu mais tento convencer a mim mesmo do que a quem ouse atentar-se aos meus pensamentos. O que nada mais é do que uma nova tentativa de me redimir diante da declaração de um falso absoluto. Se esta não é a sua primeira vez aqui, certamente leu o quão veementemente eu conheço o fim. Bom, adivinha só? Não é bem assim... Eu achei que conhecia o fim pelas mesmas razões que me motivaram a declarar que conhecia o que vinha antes dele. Mas ao que parece você só pode se certificar de algo ao dispor de tempo e distância suficientes para enquadrá-lo. Enquanto estiver no meio de algo, apenas atravesse a tempestade. Só sabe dizer como é ver a floresta através das árvores quem já trilhou seu caminho fora dela – o que não era o meu caso até então. Caso essa seja sua primeira vez aqui, recolha meus votos de acolhimento e boa sorte. Nada aqui fará sentido a não ser que você o atribua. Isso é algo que me deixa seguro

Eu conheço o fim.

Tem tanta coisa que eu gostaria que você soubesse. Mas não queria que apenas ouvisse o que tenho a dizer.  Queria que acreditasse que é verdade, porque é. Mas calma: não quero dizer que tenho algum tipo de razão. Longe disso. Existem coisas maiores do que você e eu, isso é só um fato. E entre todas as coisas que existem pelo mundo afora, quanto mais você as descobre, menos você percebe que tem razão sobre alguma delas.  Só porque você as descobriu agora, antes de alguém que você conhece, não significa que há algum mérito a ser coletado. Só significa que você saiu da sua zona de conforto por tempo e distância suficientes para perceber que há um mundo lá fora. Maior do que si mesmo e com certeza maior do que você que está lendo isso.  Não é, nem nunca foi, sobre razão. É sobre conhecimento e sobre a dádiva de compartilhá-lo. E é isso que eu quero que você saiba, porque talvez seja novidade pra você: eu conheço o fim. Não me pergunte como eu sei disso. Apenas acredite em mim. E se estou i